segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018


Ética Maçônica

Ética Maçônica

Devo antecipar que o tema nunca foi das minhas preocupações intelectuais. Não que não seja um tema afeto às minhas atividades profissionais, mas é que, maçonicamente, nunca parei para avaliar o assunto. Em outras palavras: sou leigo, embora entenda que o discurso sobre ética no meio maçônico não deve ficar girado em torno de mesmices assentadas nas concepções individuais de cada um dos irmãos. O mínimo ideal seria que o discurso moralizante e a ética maçônica de que muitos falam e outros desejam, fosse como uma Fênix Árabe, a ave lendária que renascia de suas cinzas. Mas, não posso me furtar ao entendimento de que o pluralismo cultural dos irmãos e da sociedade, o assombroso desenvolvimento das áreas do conhecimento e do saber humano, e o barulho materialístico-consumístico das práticas comerciais e das relações humanas têm deixado muitos irmãos sem o referencial unificador de inspiração e de comportamento ético que historicamente foi exercido pelas religiões e pela metafísica filosófica. Portanto, tudo é perdoável.

O fio da reflexão que pretendo tecer é simples, desde que se entenda que “a ética é a teoria ou a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade”, ou seja, “ética é a ciência de uma forma específica de comportamento humano” ou, simplesmente, “a doutrina dos costumes”. O termo ética vem do grego ethos, que significa analogamente “modo de ser” ou “caráter” enquanto forma de vida adquirida ou conquistada pelo homem. A ética maçônica, paralelamente ao conceito geral de ética, é bem menos ampla e menos exigente. Tem por fundamento os conceitos de liberdade, igualdade e fraternidade como máxima no relacionamento humano, a concretização ou realização dos valores do homem iniciado maçom e observância das regras morais consuetudinárias ou inscritas nos rituais e regulamentos maçônicos.

Não dispõe a Maçonaria de um “Código de Ética” que possa constituir um compromisso de honra para os que aceitam ingressar em nossa Ordem, e todos sabem que, ao ingressar na Maçonaria, cada indivíduo traz consigo os valores do seu convívio social, suas concepções morais e éticas já elaboradas, o que pode provocar na convivência maçônica comportamentos aéticos, a exemplo das omissões, das disputas pelo poder, perseguições, malversação dos conhecimentos e da doutrina maçônica, excessos no uso da inteligência e da desinteligência e, as mais variadas formas de indisciplina e inadaptabilidades às regras maçônicas, causando o enfraquecimento do sentido de unidade do corpo social. E aí fico a me perguntar se seria o “Código de Ética”, caso existisse, plenamente seguido ou obedecido pela universalidade dos maçons? Teria a Maçonaria, enquanto instituição universal, mecanismos capazes de cumprir e fazer cumprir as regras éticas assinaladas nesse código? Tenho lá minhas dúvidas. Mas pensar que não funciona, não é, em verdade, uma atitude filosófica, nem ética e muito menos maçônica.

A singularidade da ética maçônica nos permite dar um passo à frente. Preliminares do simbolismo e dos instrumentos maçônicos, as atitudes e os gestos ritualísticos estão a demonstrar o caminho a ser trilhado pelo maçom. A eles aditem-se, ainda, as Constituições Gerais da Ordem, os Landmarks, as Leis e Regulamentos específicos das Lojas, então, aí temos quase que definidos um conjunto de regras de conduta válidos para todos os tempos e para todos os homens que adentraram pelos portais iniciáticos das cerimônias e ritualísticas maçônicas. E tudo isso faz parte de um tipo de comportamento efetivo, tanto dos indivíduos quanto das Lojas e das Potências Maçônicas de ontem e de hoje. E é a este conjunto prático-moral meio difuso a que se submete o maçom, sem muitas reflexões sobre ele. A ética maçônica, por assim dizer, é um comportamento pautado por normas que consiste em seu fim – o bem-estar social coletivo – visado pelo comportamento moral do qual faz parte o procedimento do indivíduo ou de todos os membros da Ordem.

O problema em sua saga ética e moral reside, basicamente, no que fazer ou em como se comportar frente a cada situação concreta do indivíduo na sociedade, se não existe um código de ética maçônico como escopo social que possa tipificar as condutas e registrar as violações às regras estabelecidas. Sei, e isto é comum, que em situação de tomada de decisão, os indivíduos se defrontam com a necessidade de pautar o seu comportamento por normas que julgam mais apropriadas ou mais dignas de serem cumpridas e é aí que as regras maçônicas vão para as laterais das regras sociais vigentes. Por conseguinte, na vida real, o maçom, como qualquer outro indivíduo ou ser social, ao defrontar-se com os problemas recorre, para resolvê-los, às normas reconhecidamente profanas, cumpre determinados atos, formula juízos e, muitas vezes, se serve de determinados argumentos ou razões para justificar a decisão tomada ou o ato praticado. E o faz, muitas vezes, totalmente em desacordo com as normas maçônicas.

Eis que chegou a hora de costurar os fios do discurso para que ele não fique como uma construção sem alicerces. Como exemplo, pode-se dizer que “o bem comum proposto pela maçonaria universal compreende o conjunto das condições sócio-política-econômica-cultural que permitam aos indivíduos, famílias e nações alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição” ou “fazer o bem sem olhar a quem”, que como problema teórico não se identifica com os problemas práticos dos seus adeptos, muito embora possam estar relativamente relacionados com a moral maçônica de promoção dos objetivos da Ordem.

A ética maçônica, não deve ser mera transcrição de um discurso irracionalmente ordenado das razões normativas, axiológicas e teleológicas presentes no cotidiano das sessões maçônicas cuja força espontânea de persuasão se enfraquece ante o quadro de crise histórica da sociedade atual. E, os maçons vanguardistas e adeptos de renovação não devem se conformar em saber – saber por saber – que a qualidade ética do ato humano, longe de medir um preceito, divino, natural, legal ou humano, depende da conformidade com a consciência e, que, o ato humano é bom ou mau na medida em que a autodecisão do maçom se conforma ou não com o que a consciência diz ser justo e reto. Neste particular é preciso determinar-se o que possa efetivamente vir a ser ética maçônica, a partir da qual se estabelecerão os padrões de comportamentos a serem observados por toda a comunidade dos iniciados maçons. Este é o trabalho a ser executado.

A instância fundamental de uma possível ética maçônica, deve ser alicerçada no fato de “que cada ser humano deva ser tratado humanamente”, instância similar à enunciada por muitas religiões e ordens iniciáticas: “o que você não quer que lhe seja feito não o faça aos outros”. E isto necessita ser, além de uma proposta, um discurso aberto e entendido por todos. Ficamos por aqui, e esperamos ter contribuído de alguma forma para a instituição de uma possível ética maçônica, entendendo que a nossa Ordem necessita substituir o anacrônico Código Penal por um atualizado Código de Ética.

*Presidente da Academia Maçônica de Letras do Distrito Federal e membro da ARLS Antônio Francisco Lisboa nº 24/Brasília-DF.

Fonte: ASCETA 33

NOTA: Permitida a reprodução total ou parcial desde que citada a fonte.


A Ética e o Valor Moral na Maçonaria

 

A Ética, denominada de Filosofia Moral ou Ciência Moral, trata da análise e a reflexão sobre as condutas humanas, tanto individuais, quanto coletivas, e as normas morais como princípios dos comportamentos. Sua finalidade é fazer com que o desenvolvimento humano atinja a plenitude, respeitando as diferenças individuais.

Segundo Aristóteles, “a Ética estabelece o que se deve ou se pode fazer, e o que não se deve ou não se pode fazer”.

É evidente que quando se estuda o procedimento do homem no meio social, deve-se levar em conta que o homem é um ser moral, justamente por ser ele um se político. É um ser político porque a isso o obriga a sua natureza humana.

Mais do que nunca o homem tem que se adaptar à vida em comunidade, mormente nos tempos de globalização, quando o mundo virou uma “aldeota”, onde a aviação e os meios de comunicação acabaram com as distâncias.

O homem vive em sociedade e o Estado onde ele vive precisa dele, como ele precisa do Estado. Na sua larga visão, Aristóteles em “A Política” assinala:

…“Está claro que o Estado é produto da natureza e superior ao indivíduo; quem não fosse capaz de viver na comunidade civil ou dela não tivesse necessidade para bastar-se a si mesmo, não se tornaria nenhuma parte do Estado…”.

Tenhamos em mira que a teoria aristotélica da moral é o fundamento dessa corrente do pensamento chamado Ética.

É interessante verificar que a palavra ética, em português, é derivada do vocábulo grego ethos que significa hábito, costume.

Os romanos traduziram o ethos grego por moralis. Cícero diz em uma das suas obras, referindo-se ao vocábulo grego, que “Aquilo que tem a ver com os costumes, que eles (os gregos) chamam ethos, nós, nesta parte da filosofia referente aos hábitos, costumamos chamar de moral”.

O dicionário esclarece que Moral é a parte da filosofia que trata dos costumes ou deveres do homem para com seus semelhantes e para consigo mesmo.

Aristóteles não separa a Ética da Virtude, porque, para ele, toda a virtude se gera e perece dos mesmos atos, e mediante os mesmos atos; e exemplifica dizendo que “de tocar cítara surgem os bons e os maus citaredos”. Isto significa que, pelos atos, se conhece se o indivíduo é virtuoso ou não.

Mais adiante ele enfatiza: “É necessário, pois, atentar para a qualidade dos atos que praticamos, porque consoante a sua diferença resulta a diferença dos hábitos.”

Se o homem considerar que a prática dos deveres para com os outros e para consigo mesmo é o único caminho que leva à perfeita harmonia social, estará, pois, procedendo corretamente e pode considerar-se feliz.

Analisemos o que Aristóteles estabelece de fundamental na sua “Ética”:

“Os atos morais são livres, motivo por que o indivíduo a s s u m e a s u a responsabilidade. Em assim sendo, torna-se, para quem os pratica, causa de mérito ou demérito. A responsabilidade supõe, com certeza, o que d e n o m i n a m o s d e imputabilidade, pelo qual o ato é atribuído a um indivíduo como seu autor”.

“Existem duas espécies de responsabilidade: aquela pela qual o indivíduo responde por seus atos diante da própria consciência, ou seja, a responsabilidade moral, e a responsabilidade social que faz com que o indivíduo responda por seus atos, às vezes, perante a justiça, quando violar as leis civis”.

Aristóteles ensina que “A virtude é um hábito não só diante da reta razão, mas a ela conjunta. E a reta razão nada mais é que sabedoria”.

Resumindo, Virtude é o hábito de praticar o Bem, e vício, o hábito de praticar o mal.

Voltemos a Aristóteles e vejamos o que ele tem para nos ensinar:

“A Virtude, diz ele, se distingue segundo esta diferença: das virtudes, algumas chamo dianoéticas, a sapiência, a inteligência e a prudência; éticas, a liberalidade e a temperança. Quando, de fato, falamos dos costumes de alguém, não dizemos ser sapiente ou inteligente, mas sim, brando de ânimo ou temperante; e louvamos também, referindo-nos ao hábito: que nós chamamos virtudes aqueles hábitos que merecem ser louvados.”

Aristóteles procura estabelecer diferença entre aquilo que ele chama de virtudes dianoéticas e virtudes éticas:

“As primeiras são inatas no homem e podem crescer através do estudo, do ensinamento, razão por que têm necessidade de experiência e de tempo. Já as virtudes éticas são frutos do hábito, o que vale dizer que nenhuma delas se gera no homem por natureza, são as chamadas virtudes adquiridas. Elas não se geram nem por natureza nem contra a natureza, mas nascem em nós que, aptos pela natureza a recebê-las, nos tornamos perfeitos mediante o hábito”.

O estagirita conceitua a natureza humana como sendo equilibrada. Para ele, todo ideal tem base natural e todo natural tem desenvolvimento ideal. Reconhece, e o faz objetivamente, que a meta da vida não é o Bem por si mesmo, mas a felicidade. Assegura que a felicidade aparece como um bem perfeito, sendo a meta de todas as ações.

A Maçonaria é por excelência, uma Entidade de Moral, pois, seus princípios alcançam, em suas ações, os níveis mais elevados da Ética Universal. Sua obra, tanto material quanto espiritual advém de um passado remoto. Educando e disciplinando, prepara seus membros para que participem na busca da verdade, elevando-os em sua dignidade, fazendo com que ajam com justiça, desfrutando da liberdade, praticando a fraternidade e dedicando-se com amor à Humanidade.

Diante da evolução por que passa o mundo é necessário que visualizemos, à luz maçônica, os grandes desafios. O rigor moral e a força da autêntica solidariedade social se fazem necessários para que corrijamos os deslizes individuais, as más instituições políticas, econômicas e sociais, com o intuito de que o relacionamento humano seja mais fraterno.

A resposta não é simples, mas, podemos assegurar que sem ela enveredamos os mais tristes e funestos destinos. A Moral permite o cultivo de todas as virtudes, o que garante uma promissora convivência com nossos pares.

O imoral e o amoral, hoje ou amanhã, pagarão alto preço de uma conduta desmedida, destruindo, assim, suas vidas. “A História, mestra da vida”, testemunha a decadência dos que se distanciam da moral.

Nenhuma nação, nenhum povo e nenhum homem poderão concretizar seus sonhos, se não estiverem embasados nos conceitos da Moral. Seria como construir castelos ao vento, ainda que a aparência pareça estável.

Portanto, a cada um, a concepção do dever, do bem, da justiça, das virtudes e, sobretudo, da verdade, pois aí está a formatação da moral, revelando-nos os valores que norteiam o homem e os povos, prestigiando suas instituições e reafirmando na fé, a verdadeira perfectibilidade humana.

A Maçonaria nos chama ao cultivo da Moral e à sua nobre prática, para que sejamos cada dia, mais virtuosos.

Autor: José Airton de Carvalho

Zé Airton é Mestre Instalado, membro da ARLS Águia das Alterosas – 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte, presidente da Escola Maçônica Mestre Antônio Augusto Alves D’Almeida, membro da Loja de Pesquisas Quatuor Coronati Pedro Campos de Miranda, e um grande incentivador do blog.

 

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018


Com Um Beijo

 

"E logo que chegou, aproximou-se Dele e disse-lhe: - Rabi, Rabi. E beijou-O".   Marcos, 14:45.

 

Ninguém pode turvar a fonte doce da afetividade em que todas as criaturas se dessedentam sobre o mundo.

A amizade é a sombra amiga da árvore do amor fraterno. Ao bálsamo de sua suavidade, o tormento das paixões atenua os rigores ásperos. É pela realidade do amor que todas as forças celestes trabalham.

Com isso, reconhecemos as manifestações de fraternidade como revelações dos traços sublimes da criatura.

Um homem estranho à menor expressão de afeto é um ser profundamente desventurado. Mas, aprendiz algum deve olvidar quanta vigilância é indispensável nesse capítulo.

Jesus, nas horas derradeiras, deixa uma lição aos discípulos do futuro.

Não são os inimigos declarados de Sua Missão Divina que vêm buscá-Lo em Gethsemani. É um companheiro amado. Não é chamado à angústia da traição com violência. Sente-se envolvido na grande amargura por um beijo. O Senhor conhecia a realidade amarga. Conhecera previamente a defecção de Judas: "É assim que me entregas"? - falou ao discípulo. O companheiro frágil perturba-se e treme.

E a lição ficou gravada no Evangelho, em silêncio, atravessando os séculos.

É interessante que não se veja um sacerdote do templo, adversário franco de Cristo, afrontando-lhe o olhar sereno ao lado das oliveiras contemplativas.

É um amigo que lhe traz o veneno amargo.

Não devemos comentar o quadro, em vista de que, quase todos nós, temos sido frágeis, mais que Judas, mas não podemos esquecer que o Mestre foi traído com um beijo.

 

Emmanuel

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018


COXOS E ESTROPIADOS

 

Emmanuel

 

Em matéria de auxílio aos que te reclamam a luz da fraternidade, não te deixes guiar pelas aparências.

 

Não julgues o mordomo do ouro terrestre por afortunado detentor da riqueza.

Muitas vezes, sob anotações e fichas bancárias, é um trabalhador desesperado, vergando ao peso de inquietantes compromissos, quando não seja triste sedento de paz entre as grades da sovinice.

 

Não suponhas o homem representativo da vida pública como sendo o guardião da felicidade.

Em muitas ocasiões, embora ostente o bastão do poder, não passa de infortunada vítima de amargas provas a lhe roubarem o contentamento e a segurança.

 

Não consideres a mulher exteriormente enfeitada por jóias de alto preço, por veículo de maldade e perturbação.

Quase sempre, no imo da própria alma, sente-se asfixiada por chagas dolorosas de amargura e desencanto, que lhe aniquilam as melhores aspirações.

 

Não creias que o artista da inteligência, admirável pelos valores intelectuais com que assombra a mente popular seja sempre o instigador da devassidão.

Muitas vezes, na intimidade dele mesmo é um mutilado psicológico, de quem as vicissitudes da Terra furtaram a esperança e a alegria.

 

Coxos e estropiados não se encontram simplesmente nos desvãos da indigência.

Respiram com mais frequência, segundo o símbolo evangélico, nas grandes e luzidas assembléias do mundo, onde se discutem as mais pesadas responsabilidades humanas.

 

Jesus quando nos pediu atenção para com os irmãos infelizes incluiu igualmente os nossos companheiros que conduzem consigo a bolsa recheada com aflitivos desenganos na vida íntima.

 

Fujamos ao exibicionismo dos elogios mútuos e das vazias competições em que medimos nossas forças com os próprios afeiçoados em torneios inúteis de vaidade e ilusão.

 

Que o entendimento nos ilumine o espírito na jornada para diante e compadecendo-nos uns dos outros, saibamos pavimentar com a verdadeira fraternidade o caminho de nossa libertação.

sábado, 17 de fevereiro de 2018


BENDIZE

 

Auta de Souza

 

Feliz de ti se choras e bendizes

A angústia que te oprime e dilacera,

Guardando a luz da fé, viva e sincera,

No coração marcado a cicatrizes!

 

Ditosa a crença que não desespera

No turbilhão das horas infelizes,

Entrelaçando as fúlgidas raízes

No País da Divina Primavera!

 

Suporta a sombra que precede a aurora,

Louva a pedrada que nos aprimora,

Trabalha e espera ao temporal violento!...

 

E, um dia, sem a carne em que te abrasas,

Remontarás ao Céu com as próprias asas,

Purificadas pelo sofrimento.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018


Código de Ética

 

Chegamos ao fim do estudo da moral recomendada em cada grau da Maçonaria e verificamos que em todos os casos essa moral encontra apoio no texto bíblico de abertura dos respectivos graus.

 

Como mencionamos no último grau, o Grau 33 – Grande Inspetor Geral ou Membro Honorário, a Maçonaria faz menção de uma Ética. Como a própria Maçonaria admite que os termos Ética e Moral nos dias de hoje são usados para definir o comportamento social, profissional, jurídico etc., isso nos dá a liberdade de, reunidas as recomendações morais de todos os 33 graus da Maçonaria, chamar essa reunião de Código de Ética.

 

Assim, segue abaixo a reunião de todos os graus com a menção da moral respectiva, segundo a nossa interpretação, o que poderá formar esse Código de Ética.

 

Grau 1 - O Amor Fraternal

Grau 2 - A Prática de Virtude

Grau 3 - A Imortalidade da Alma

Grau 4 - A Fidelidade ao Dever

Grau 5 - A Perfeição

Grau 6 - A Ponderação

Grau 7 - A Justiça Igual para Todos

Grau 8 - O Respeito à Propriedade

Grau 9 - A Confiança na Justiça

Grau 10 - A Credibilidade

Grau 11 - Justa Recompensa

Grau 12 - A Sabedoria

Grau 13 - A Perseverança

Grau 14 - A Busca da Verdade

Grau 15 - A Fidelidade à Palavra Empenhada

Grau 16 - A Recompensa pelas Obras

Grau 17 - A Obediência à Lei

Grau 18 - A Caridade (O Amor)

Grau 19 - A Salvação pela Fé

Grau 20 - A Propagação da Verdade

Grau 21 - A Prática da Humildade

Grau 22 - O Amor ao Trabalho

Grau 23 - A Defesa do Hábeas-Corpus

Grau 24 - A Sustentação da Lei do Júri

Grau 25 - O Sacrifício pelo Bem Público

Grau 26 - A Igualdade Social

Grau 27 - A Defesa de Ordem Constituída

Grau 28 - O Culto à Natureza

Grau 29 - A Crença em Jesus Cristo

Grau 30 - O Cumprimento da Lei

Grau 31 - O Culto à Justiça

Grau 32 - A Organização

Grau 33 - O Homem Justo

.·.

Do livro Jesus e a Moral Maçônica

Autor: Francisco Mello Siqueira

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018


SEMENTES DIVINAS

 

Emmanuel

 

Quando se te fale acerca do muito para liquidar as necessidades humanas, não menoscabes o pouco que sejas capaz de fazer, em auxilio ao próximo, repartindo o

coração em pedaços de entendimento e de amor.

 

O prato do socorro fraterno não resolve o problema da fome; no entanto, pode ser hoje a benção que reerguera as energias de alguém, a beira da inanição, afim de que o trabalho amanha lhe retire os passos do nevoeiro de desencanto e aflição.

 

A peca de roupa ao companheiro em andrajos não resolve o problema da nudez, mas pode ser hoje o apoio substancial em beneficio de alguém que o frei vergasta e que amanha se convertera em fonte viva de amparo aos desabrigados da Terra.

 

O livro nobilitante colocado nas mãos do amigo em dificuldade, não resolve o problema da ignorância; todavia, pode ser hoje a luz providencial para alguém que as sombras envolvem e que amanha se fara núcleo irradiante de ideias renovadoras para milhares de criaturas sedentas de orientação e de paz.

 

Os minutos rápidos de conversação esclarecedora que dispenses ao companheiro enredado nas teias da influencia nociva, não resolve o problema da obsessão; no entanto, pode ser hoje a escora salvadora para alguém que a perturbação ameaça e que amanha se transformara em coluna viva de educação espiritual, redimindo os sofredores do mundo.

 

Não menosprezes a migalha de cooperação com que possas incentivar a sustentação das boas obras.

 

Recorda o óbolo da viúva, destacado por Jesus como sendo a dadiva mais rica aos serviços da fé, pelo sacrifício que a oferenda representava. Não apenas isso.

Rememoremos o dia em que o Senhor, abençoando cinco pães e dois peixes, alimentou extensa multidão de famintos.

 

Em verdade, quaisquer migalhas conosco ou simplesmente por nos, serão sempre migalhas, mas se levadas ao serviço do bem, com Jesus, serão sementes divinas de paz e alegria, instrução e progresso, beneficência e prosperidades no mundo inteiro.

domingo, 11 de fevereiro de 2018


A SUBLIME SENTENÇA

 

Francisco Antônio de carvalho Júnior*

 

Ao pé de templo enorme, a praça tumultua.

Ansiosa expectação na calçada poeirenta...

A massa encontra o Cristo e, trágica, apresenta

Consternada mulher a chorar seminua...

 

– “Adúltera, Senhor!” – velho escriba insinua.

– “Que dizes, Mestre?” – insiste a multidão violenta –

“Somos o tribunal que a tradição sustenta,

A lei é apedrejar nos libelos da rua!”

 

– Fita o Mestre a infeliz que à miséria alanceia;

Inclina-se, em seguida, e escreve sobre a areia,

Como quem grava o sonho onde a vida não medra.

 

Depois, contempla em torno a malícia, o veneno,

E exclama para a turba, entre nobre e sereno:

– “Quem for puro entre vós, lance a primeira pedra!”

 

 

(*) Depois de ingressar na Faculdade de Direito de S. Paulo, fazendo o terceiro e quarto anos no Recife, sòmente em 1877 concluía o curso em S. Paulo. Ainda estudante, colaborou na República, de Lúcio de Mendonça. Poeta, folhetinista, critico literário, dramaturgo. Nomeado promotor de Angra dos Reis, em 1878, transferiu-se depois para o Rio, onde viria à desencarnar no ano seguinte, como juiz municipal.

sábado, 10 de fevereiro de 2018


No Campo de Provas

 

Ferir o corpo com a desculpa de conquistar a ascensão da alma é operar o suicídio indireto, pelo qual menosprezamos a Infinita Bondade que no-lo empresta, a fim de que o sol do progresso nos assinale a existência.

Atendendo as sugestões dessa ordem, copiaremos, insensatos, a decisão infeliz do lavrador que destruísse a enxada que o serve, na suposição de auxiliar ao campo, ou o impulso delituoso do operário que desorganizasse as peças da máquina que o obedece, a pretexto de ser mais útil.

O engenho físico é o templo em que somos chamados à escola da regeneração.

Nele possuímos a harpa da vida, em cujas cordas podemos desferir a melodia do trabalho e do sacrifício, da abnegação e do amor, preparando o próprio acesso à exaltação da imortalidade.

O cilício mais precioso ao nosso grande futuro será sempre o da própria renunciação em benefício da felicidade dos outros, aprendendo a ceder de nossas opiniões ou de nosso conforto em auxílio dos corações que nos partilham o calor do teto, os quais, muitas vezes, em provação mais árdua do que a nossa, nos reclamam entendimento e bondade ao preço de nossa dor.

Saibamos sorrir entre lágrimas, fatigar-nos no amparo aos que Deus nos confia, emudecer nossa excessiva agressividade, abraçar quem nos fere e apagar nossos próprios sonhos, a fim de que a segurança e a tranquilidade se façam junto de nós naqueles que nos comungam a experiência e somente assim nossa exaustão corpórea será compreensível e justa, porquanto, de nosso cansaço terá nascido a ventura daqueles que atravessam conosco o vale da sombra terrestre, à procura da luz inextinguível, que reina, soberana, na Espiritualidade Maior.

 

Quanto mais clara a nossa luz, mais alta a nossa dívida para com as sombras. Quanto mais sublime as nossas noções do bem, mais imperiosos os nossos deveres de socorro às vítimas do mal.

 
Emmanuel

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018


Posses Terrestres

 

“... Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens ajuntado para quem será?”.

- Jesus (Lucas, 12:20)

 

Do ponto de vista da posse, de que disporá o homem, que realmente lhe pertença?

O corpo é uma bênção que lhe foi concedida pelos pais, em nome do amor eterno que rege a vida.

A família é uma equipe de corações afins e menos afins, em que ele estagia.

Os laços afetivos em que se motiva para trabalhar e viver podem ser mudados os subtraídos, a qualquer tempo.

O nome é uma doação do registro civil que o arrola nos acervos da estatística para definir-lhe o nascimento e a situação.

As potências mentais e os recursos físicos que se lhe erigem por instrumentos sutis de manifestação, muita vez são suscetíveis de sofrer temporárias cassações, dentro dos princípios de causa e efeito.

O prestígio social é um movimento digno, mas claramente mutável, entretecido pelas opiniões de amigos e adversários.

O conhecimento intelectual é um quadro de afirmações provisórias, no edifício da evolução, de que ele compartilha sem ser o responsável.

A fortuna material é um empréstimo dos Poderes Superiores que, não raro, lhe escapa ao controle, quando menos espera.

Tudo o que a criatura humana possui é tão-somente obséquio, concessão, favor ou benefício da Providência Divina ou da Bondade Humana.

Todos temos efetivamente de nós unicamente a nossa própria alma e, já que somos usufrutuários de todos os bens da vida, estejamos constantemente prevenidos para dar conta de nós próprios, ante as Leis do Destino, no tocante a uso e proveito, rendimento e administração.

 

Se aspiras o título de obreiro do Senhor, não olvides que o mundo é um campo imenso de trabalho para a lavoura do bem.

Do escuro menosprezo da Terra fez Jesus o caminho radiante para os Céus.

 

Emmanuel

sábado, 3 de fevereiro de 2018


LIBERDADE DE PENSAMENTO


 

Quando dizemos que a Maçonaria é uma Escola de filosofar, assim o fazemos porque entre nós se exige estudo, pesquisa, meditação.

 

No entanto, não tememos afirmar que nossa Ordem é fundamentalmente filosófica, uma vez que ela tem por mira alcançar um ideal superior. A beleza do filosofar maçônico está no estudo comparativo dos sistemas filosóficos que a história nos proporciona.

 

A Maçonaria não se prende a uma escola ou a um determinado sistema, porque se tal o fizesse estaria tirando a liberdade de pensamento de seus membros, obrigando-os a seguir um único e mesmo caminho.

 

Haveria, então, é de supor-se, uma verdadeira lavagem cerebral; se tal ocorresse mais cedo ou mais tarde, nossa Ordem ou se desvirtuaria ou desapareceria.

 

O Maçom tem inteira liberdade de interpretação, pois o símbolo permite exegese variada e, muitas vezes, desigual.

 

Se houvera uma uniformidade obrigatória de interpretação, isto seria um verdadeiro atentado contra um dos sagrados postulados que ela prega: liberdade.

 

Portanto, é impossível, maçônicamente, alguém pretender fixar determinada corrente ideológica.

 

A preocupação maçônica pelo ser, pelo conhecer, pelo alcançar a verdade, exige análises, debates, troca de ideias e, sobretudo, respeito ao pensamento alheio.

 

O esoterismo se sobrepõe ao exoterismo, porque os problemas interiores merecem maior atenção que os exteriores.

 

O Maçom deve conscientizar-se de que tem um compromisso consigo mesmo, com o seu pensar, com o que fazer de sua vida maçônica.

 

Ele não pode prescindir de si próprio, não pode prescindir de seus direitos e, sobretudo, de seus deveres, porque se o fizera estaria negando-se como ser, como homem, como Maçom.

 

Não podemos escapar da grande verdade de que o saber humano, mormente o saber filosófico – vem do homem, pelo homem e para o homem.

 

Devemos ter sempre diante dos olhos esta verdade: a Maçonaria proporciona aos seus membros os meios necessários para que adquiram o saber. Infeliz do Maçom que disto não se aperceber.

 

É necessário, no entanto, que tenhamos a melhor boa vontade em assimilarmos tudo àquilo que ela põe ao nosso dispor não só para adquirirmos o saber, mas também para alcançarmos aquele Grau de educação maçônica que nos projetará como verdadeiros e autênticos Maçons.

 

Autor: Raimundo Rodrigues

Do livro A Filosofia da Maçonaria Simbólica – Vol. 1,Londrina : A Trolha, 1999,