quarta-feira, 30 de novembro de 2016


NA FONTE DO BEM

 

“Então, enquanto temos tempo, façamos bem a todos...”

PAULO (GÁLATAS, 6:19.)

 

Muita gente só admite auxílio eficiente, quando o dinheiro aparece.

Entretanto, há serviços que o ouro não consegue remunerar.

Há vencimentos justos para os encargos do professor; todavia, ninguém pode estabelecer pagamento aos sacrifícios com que ele abraça os misteres da escola.

Existem honorários para as atividades do médico; no entanto, pessoa alguma logrará recompensar em valores amoedados o devotamento a que se entrega o missionário da cura, no socorro aos enfermos.

Não se compra estímulo ao trabalho. Não se vende esperança nos armazéns.

O sorriso fraternal não é matéria de negócio. Gentileza não é artigo de mercado.

Onde a vida te situe, aí recolherás, todo dia, múltiplas ocasiões de fazer o bem.

Nem sempre movimentarás bolsa farta para mitigar a penúria alheia, mas sempre disporás da frase confortadora, da oração providencial, da referência generosa, do gesto amigo.

O Apóstolo Paulo reconhece que, às vezes, atravessamos grandes ou pequenos períodos de inibições e provações, pelo que nos recomenda: “enquanto temos tempo, façamos o bem a todos”; contudo, mesmo nas circunstâncias difíceis, urge endereçar aos outros o melhor ao nosso alcance, porque segundo as leis da vida, aquilo que o homem semeia, isso mesmo colherá.

 

Emmanuel, do livro Palavras da vida Eterna, psicografia de Chico Xavier.

terça-feira, 29 de novembro de 2016



 
Uma forma de determinarmos quais são os Valores maçónicos é verificar quais são os que encontramos referidos nos textos constitutivos e nos textos essenciais da Maçonaria.
 
Nas Constituições de Anderson de 1723, encontramos a compilação dos Ancient Charges, os Antigos Deveres. Lendo-a, deparamos com um significativo conjunto de Valores, que integram o cerne do que podemos considerar como a ideologia maçónica.
 
O primeiro capítulo dos Antigos Deveres trata de Deus e da Religião e nele pode ler-se:
 
Um Maçom é obrigado, pela sua condição, a obedecer à lei moral. E, se compreende corretamente a Arte, nunca será um ateu estúpido nem um libertino irreligioso. Mas, embora, nos tempos antigos, os maçons fossem obrigados, em cada país, a ser da religião desse país ou nação, qualquer que ela fosse, julga-se agora mais adequado obrigá-los apenas àquela religião na qual todos os homens concordam, deixando a cada um as suas convicções próprias: isto é, a serem homens bons e leais ou homens honrados e honestos, quaisquer que sejam as denominações ou crenças que os possam distinguir. Por consequência, a Maçonaria converte-se no Centro de União e no meio de conciliar uma amizade verdadeira entre pessoas que poderiam permanecer sempre distanciadas.
 
Deste texto resulta que um primeiro Valor a ser respeitado é o da Crença num Princípio Criador.
 
O Antigo Dever é claro ao estipular que um maçom nunca será um “ateu estúpido”, mas também que está apenas obrigado “àquela religião na qual todos os homens concordam, deixando a cada um as suas convicções próprias”.
 
Daqui resulta um segundo Valor a ser respeitado: a Liberdade de Crença Religiosa.
 
Um maçom deve ser crente, mas a natureza e os termos da sua crença só a ele dizem respeito e ninguém tem nada com isso.
 
Da conjugação destes dois Valores resulta que a Maçonaria respeita e considera todas as religiões, todas admitindo e a nenhuma concedendo especial privilégio. Paradoxalmente - ou talvez nem por isso… - esta posição da Maçonaria enquanto instituição de nenhuma crença religiosa privilegiar ou condenar, deixando o juízo concreto sobre o tema a cada um dos seus elementos, criou um ponto de conflito com algumas hierarquias religiosas (Igreja Católica, várias Igrejas Evangélicas, várias tendências do Islão), porquanto colide com o cerne de várias religiões, assente na consideração de que a Salvação tem como pressuposto a crença segundo a sua particular religião.  
 
Mas este Valor da Liberdade de Crença Religiosa vai mais além do que a igual aceitação das várias religiões organizadas. Admite e aceita que cada um siga  a sua convicção própria, integrando-se esta ou não numa religião organizada. Admite-se assim que seja maçom o deísta, o panteísta e mesmo o budista (cuja crença não inclui um Deus, mas indubitavelmente assenta num Princípio Criador, ao qual eventualmente o ser logrará fundir-se, atingindo o Nirvana).
 
De fora ficam apenas os ateus e os agnósticos, aqueles rejeitando a existência de Divindade, estes não crendo nem deixando de crer.
 
Mas clamam muitos que a Liberdade de Crença Religiosa inclui a Liberdade de crer, mas também a de não crer, ou de não saber se deve crer ou não. É o caso daqueles que integram a dita maçonaria Irregular ou Liberal.
 
Este argumento permite alertar para uma distinção, que se afigura necessária, entre Valores Sociais e Valores Maçónicos. Os Valores Sociais são aqueles que devem ser prosseguidos e exigíveis na sociedade humana. Os Valores Maçónicos são mais exigentes do que estes, na vertente do seu prosseguimento pelos próprios maçons.
 
Não há dúvida de que, enquanto Valor Social, a Liberdade de Crença Religiosa compreende, a liberdade de crer ou descrer e nenhum cidadão pode ser prejudicado ou beneficiado em virtude de professar uma religião, seguir uma crença, ser agnóstico ou ateu. Mas o conceito de Valores Maçónicos implica a consideração dos preceitos ou princípios que os maçons seguem na sua própria ação. Assim sendo, o maçom respeita e considera o ateu e o agnóstico enquanto elementos sociais válidos que, e bem, usam a sua liberdade de pensamento e de escolha, quanto à orientação religiosa. Mas exigem de si próprios e a si próprios que acreditem no Criador, qualquer que seja a sua particular conceção Dele, sigam ou não os preceitos de uma religião organizada. Quem for agnóstico ou ateu, não há qualquer razão para não ser um válido elemento da sociedade, deve reconhecer-lhe o direito de o ser e de não ser, por qualquer forma, prejudicado pela sua maneira de pensar, é de pleno direito um elemento integrante da Sociedade, no uso do Valor Social da Liberdade de Crença Religiosa, tal como deve ser entendida na sociedade, mas não é maçom, porque esta qualidade pressupõe necessariamente a crença no Criador.
 
Devemos assim estar atentos a que uma expressão pode ter significados diferentes, consoante se aplique à sociedade em que nos inserimos ou se aplique à mais restrita comunidade dos maçons. Só assim, aliás, faz sentido qualificar o conceito de Valores com o adjetivo maçónicos. Se os Valores Maçónicos fossem integralmente coincidentes com os Valores Sociais, não era necessária a adjetivação: utilizava-se simplesmente a denominação de Valores. O que nos permite a conclusão de que os Valores Maçónicos são os preceitos morais que os maçons utilizam para orientar a sua própria atuação e que são ou coincidentes ou mais exigentes que os Valores em uso na Sociedade.
 
Um terceiro Valor ínsito neste capítulo é o da Bondade. O maçom deve determinar a sua conduta no sentido de fazer e espalhar o Bem, criar, na medida do que lhe for possível, a felicidade à sua volta. Tratar bem todos aqueles com quem interage, facilitar a vida ao próximo, e não dificultá-la, deve ser apanágio do maçom.
 
Um quarto Valor descortinável neste capítulo é o da Lealdade. Ser leal para com os seus Irmãos, os seus colegas ou superiores no trabalho, a sua família e amigos é um requisito obrigatório para um maçom. Quem é desleal não é digno da confiança alheia, não é uma pessoa de bons costumes.
 
Os quinto e sexto Valores que surpreendemos neste capítulo são a Honradez e a Honestidade. Não são conceitos sinónimos. Entre eles existe uma relação de género e espécie. Todo o homem honrado é, necessariamente, honesto, mas nem todos os homens honestos são honrados.
 
A Honestidade afere-se relativamente à postura quanto a bens materiais e relação interpessoal. O homem honesto quer para si, recebe e apropria-se daquilo a que tem direito e entrega aos outros aquilo a que eles direito têm. Não prejudica ninguém. Cumpre a sua palavra. Pratica a verdade e recusa a mentira. Mas não tem a obrigação de se prejudicar em prol de compromissos que não tenha assumido ou em situações que não são de sua responsabilidade.
 
O homem honrado também tem essa postura, mas vai mais além. Honra implica sentimento do dever, da dignidade e da justiça. O homem honrado cumpre o que considera ser seu dever, o que acha deve ser digno de si, o que acha justo, mesmo que não tenha obrigação disso, mesmo que não tenha assumido ou prometido agir dessa forma. Vai além da mera honestidade. Se necessário, prejudica-se em prol da dignidade, própria ou alheia, ou da justiça.

Rui Bandeira

segunda-feira, 28 de novembro de 2016


Desafios que a Maçonaria deve vencer

 

Fábio Cyrino, M.I. 33° REAA

Harmonia e Concórdia 3522

Oriente de São Paulo (SP) – Grande Oriente do Brasil/ GOSP

 

Ao longo de sua história, a Maçonaria, não aquela das lendas e tradições românticas, de tempos imemoriais, das guildas de ofício que pretendiam manter uma reserva intelectual de mercado, mas sim a Maçonaria como Instituição, fruto de um momento social iluminista originada ao longo do final do século 17 e início do 18, sempre enfrentou oposição do chamado “mundo profano”, principalmente por seu caráter sigiloso, reservado, secreto até.

Nestes quase 300 anos de existência oficial a ser completada em 2017, a Maçonaria se deparou com fortes movimentos que pretenderam controlá-la e até mesmo suprimi-la, com a eliminação de suas estruturas, a prisão e mesmo a condenação à morte de seus integrantes. Desde a emissão da Bula In Eminenti Apostolatus Specula, por parte do papa Clemente XII, em 28 de abril de 1738, uma das primeiras tentativas de sua supressão, até os fortes ataques sofridos ao longo do século 20 por nações totalitárias, de caráter fascista, mesmo assim a Maçonaria sempre representou ao mesmo tempo um farol de conquistas sociais de Liberdade e Igualdade entre os Homens e uma ameaça aqueles que pretendiam a perpetuação de um status quo baseado no controle do Estado e da Sociedade por poucos, uma elite perversa que visava ao controle do conhecimento, aos meios de produção, às liberdades individuais.

Nestes últimos 300 anos, em suas fileiras, a Maçonaria abrigou líderes políticos, libertadores, intelectuais, filósofos, cientistas e artistas: de Saint-Martin e Washington; de Voltaire a Franklin; de Mozart e Puccini a Montaigne e Fleming. A Maçonaria sofreu e sobreviveu, sempre permanecendo imune aos ataques externos e internos à sua estrutura globalizada, em uma época em que o termo ainda nem sequer havia sido cunhado.

Nestes 300 anos, lutou-se pela Liberdade social, pelo acesso universal à instrução, pelo direito de acesso aos meios de produção, pela liberdade política, pela defesa dos Estados laicos e pela comunhão entre os povos. Lutou-se pelo fim do Absolutismo; pelo fim da Escravidão; pela eliminação das oligarquias na sociedade; pela eliminação do totalitarismo de Hitler, de Mussolini e de Franco, exemplos de Estados onde a Maçonaria foi perseguida e praticamente eliminada, com a morte de aproximadamente 400.000 maçons em campos de extermínio, conforme os registros oficiais apontam; lutou-se pelo fim da Ditadura do Proletariado nas quatro décadas após o término da Segunda Guerra Mundial e tem se lutado ainda pela supressão das injustiças sociais e econômicas.

Agora nestas primeiras décadas do século 21, a Maçonaria, de uma maneira geral, enfrenta um inimigo maior que todos aqueles que já a confrontaram: a indiferença. A indiferença por parte de seus integrantes de que não há mais batalhas a serem vencidas; a indiferença e a acomodação por parte de seus integrantes de que as grandes causas se resumem a encontros sociais e a discursos vazios desassociados da realidade prática de um mundo em transformação, um mundo que exige respostas rápidas para questões cada vez mais complexas; a indiferença por parte de seus integrantes com relação aos equívocos internos e à luta insana por um poder sem poder algum; a indiferença diante de grupos que simplesmente se esquecem dos compromissos assumidos no instante de suas iniciações.

Portanto, o maior inimigo da Maçonaria não está somente no crescimento de movimentos antimaçônicos, no crescimento de teorias de conspirações, nos ataques de grupos extremistas que tem se infiltrado dentro da Ordem, com o intuito de se valer da “proteção” de seus templos para fins menores e escusos. O maior inimigo da Maçonaria está na constituição, internamente, em nossas fileiras, de grupos de interesses particulares, na construção de uma oligarquia, de um governo de poucos, por si só perverso, com pretensões de se perpetuar no poder da Instituição, transformando-se numa autocracia ou mesmo numa plutocracia. O que se tem visto de uma forma generalizada é que os interesses maiores, os interesses sociais e culturais de grande parte da sociedade profana e maçônica, foram deixados de lado, em troca de uma política feita para se garantir regalias efêmeras e reuniões festivas sem significados maiores.

Mas quais desafios a Maçonaria deve vencer?

Antes de qualquer ação concreta, antes de se voltar à sociedade profana, a Maçonaria deve se re-inventar, não no sentido de se criar um novo padrão de atuação, mas sim de se retornar aos princípios defendidos e elaborados por aqueles que “inventaram” a Instituição; uma reformulação da “ética maçônica” com vias ao re-exame dos hábitos dos maçons e do seu caráter em geral, de modo a se evitar o desmoronamento dos pilares de sustentação da Instituição; um re-exame das reais necessidades da Maçonaria, principalmente com relação àqueles que pretendem ocupar a liderança e a representação de nossa Ordem, guindando-se aos seus maiores postos, não só o mais carismático, mas também aquele que seja mais preparado do ponto de vista ético, intelectual e moral.

Necessitamos de um novo padrão de comportamento, não o comportamento vigente, voltado para a auto promoção e a perpetuação de privilégios, mas sim um novo padrão para se vencer os desafios referentes à construção de uma sociedade profana baseada nos princípios fundamentais defendidos pela Ordem, ou seja a formação de Homens preparados para a diminuição das diferenças existentes entre as classes, não somente sob a ótica econômica, mas também do ponto de vista cultural e educacional.

O que devemos ter em mente e plenamente consciente que a Maçonaria é a Instituição onde o mundo deve se espelhar e não o contrário. Que os exemplos de valorização do Homem, da História e da Cultura que sempre foram os grandes pilares da Maçonaria iluminem o mundo de trevas profano a partir de nossas fileiras e não o oposto, pois não podemos permitir que as trevas desse mesmo mundo obscureçam as Colunas de nossa Instituição.

Devemos ser vaidosos não por aquilo que pretendemos ser, mas sim, orgulhosos por toda ação e comportamento que nos identifiquem e reconheçam como Homens preparados para transformar o Mundo.

domingo, 27 de novembro de 2016


Traje Maçônico, (Terno Preto e Balandrau), Uso e costumes

 


Basicamente, a uniformização da indumentária visa à harmonização do ambiente e das pessoas, gerando um clima psicológico favorável à integração e ao controle. As diversas organizações uniformizam as pessoas na busca da disciplina, do controle e da integração. É o caso das Forças Armadas, dos Estudantes, das Polícias Militares, das grandes corporações de operários, etc.

No caso da Maçonaria, a uniformização tem os mesmos benefícios já citados, além de naturalmente, os aspectos, que se somam e que dizem respeito, ao uso da cor preta. Na prática dos trabalhos em nossos Templos, buscamos dentre outras coisas, esotericamente, captarem energias cósmicas, ou fluidos positivos ou forças astrais superiores para nosso fortalecimento espiritual. Da física temos o conceito de que o preto não é cor, mas sim um estado de ausência de cores. As superfícies pretas são as mais absorventes de energias de qualquer natureza.

Então, a indumentária preta nos tornará um receptor mais receptivo e mais que isso, nos tornará também um acumulador, uma espécie de condensador deste tipo de energia. Por outro lado, a couraça formada pela nossa roupa preta, faz com que as eventuais energias negativas que eventualmente possam entrar no Templo conosco, não sejam transmitidas aos nossos Irmãos. Por isso o Maçom veste-se de roupas pretas para participar dos trabalhos em Loja.

A indumentária recomendada para as Sessões Magnas é o terno preto, com camisa branca e gravata preta ou branca. Para as Sessões Econômicas, admite-se o uso do Balandrau, que deve ser comprido e preto, complementado pelo uso obrigatório de calças, meias e sapatos pretos.

A comodidade que oferece ao usuário fez com que o Balandrau se difundisse rapidamente, mas é preciso salientar, ele deve ser comprido e ficar a um palmo do chão, pois é uma veste talar, ou seja, que vai até ao calcanhar. Desta forma, também não são indumentárias maçônicas as “mini-saias” que alguns Irmãos usam como se fosse um Balandrau.

Importante observar que, tanto do ponto de vista lingüístico como do ponto de vista maçônico, preto e escuro não são sinônimos, conforme muitos querem. E, em assim sendo, toda indumentária que não seja preta, embora escura, não é maçonicamente adequada.

Alguns autores são de opinião de que o rigor do traje preto deve ser exigência para as Sessões Magnas, podendo ser livre quanto à cor nas Sessões Econômicas, mas mesmo assim todos são unânimes de que é indispensável o uso do paletó e da gravata.

Cabe ao Venerável Mestre decidir, dentro dos princípios do bom senso e da tolerância em torno das exceções, caso algum Irmão visitante em viagem ou mesmo de algum Irmão do quadro, que por alguma razão plenamente justificável, se apresentar ao trabalho com roupa de outra cor.

 

 

O Balandrau Maçônico e seu uso em loja

Embora, na opinião de muitos, não seja esta uma discussão tão importante, é, de fato, uma questão interna de Loja que sempre causa alguns transtornos nas Sessões Maçônicas, entre aqueles que condenam o uso do balandrau e aqueles que o defendem. Para alguns Irmãos, o traje maçônico correto é o terno escuro, de preferência preto ou azul-marinho, especialmente em sessões magnas, sendo tolerado o uso do balandrau.

Outros sustentam a idéia de que tanto em Sessões Magnas, quanto Ordinárias, pode-se usar apenas o balandrau. Discussões à parte, para mim o mais importante é o Maçom participar da Sessão com todo o seu coração, imbuído da seriedade que o momento exige. É como diz o ditado “o hábito não faz o monge”.

BALANDRAU [lat. balandrana; it. palandrano]

Capa em feitio de batina, feita de tecido leve e preto.
Embora alguns autores afirmam que o balandrau não é veste maçônica, na realidade o seu uso remonta à primeira das associações organizadas de ofício, a dos Collegia Fabrorum, criada no séc. IV a.C., em Roma.

Quando as legiões romanas saíam para as suas conquistas bélicas, os collegiati acompanhavam os legionários, para reconstruírem o que fosse destruído pela ação guerreira, usando, nesses deslocamentos, uma túnica negra; da mesma maneira, os membros das confrarias operativas dos maçons medievais, quando viajavam para outras cidades, feudos, ou países, usavam um balandrau negro. Assim, o balandrau, que é veste talar – deve ir até os talões, ou calcanhar -, foi uma das primeiras vestes maçônicas.

Teve inicialmente o seu uso ligado às funções do 1° Experto, durante os trabalhos de Iniciação em que atendia o profano na Câmara de Reflexões e na cena de S. João. Acreditamos que o nosso clima tropical, a comodidade que o mesmo oferece ao usuário e especialmente o seu baixo custo fizeram com que se difundisse entre nós.

Segundo Nicola Aslan, a presença do Balandrau remonta à última metade do séc. XIX, tendo sido introduzida na Ordem Maçônica pelos Irmãos que faziam parte, ao mesmo tempo, de irmandades católicas e de Lojas Maçônicas, e que foram, sem dúvida, o motivo da famigerada Questão Religiosa, nascida no Brasil por volta de 1872. Rizzardo Da Camino, escreve:

“O Balandrau surgiu no Brasil com o movimento libertário da Independência, quando os maçons se reuniam sigilosamente, à noite; designando o local, que em cada noite era diverso, os maçons percorriam seu caminho, envoltos em balandraus, munidos de capuz, com a finalidade de penetrando na escuridão permanecerem ‘ocultos’, nas sombras para preservar a identidade”.

Fica aqui, pois esclarecido que o emprego do Balandrau é aceitável e freqüente, na Maçonaria Brasileira, desde que comprido até os pés, mangas largas, de cor preta, fechada até o pescoço e sem qualquer insígnia nele bordada. Mas lembrando sempre: que a consciência do homem está no seu interior e não na roupa.

O negro significa ausência de cor, empresta as sessões um clima pesado de luto; igualando a todos, não haverá distinção para analisar qualquer personalidade; todos emergem em um oceano de neutralidade. Que lições podem tirar desse costume maçônico? Que a parte externa de nós próprios, em certas oportunidades mostra-se em trevas ansiando todos por uma luz.

Lendo alguns artigos de autores maçônicos da atualidade, percebemos que há até entre eles algumas idéias que, se não chegam a se contradizerem, mostram algumas diferenças de pensamento, principalmente em relação ao uso do balandrau em Loja.

Este trabalho visa trazer algum esclarecimento sobre o tema aos meus irmãos da Loja Maçônica Asilo da Virtude, Loja essa que me proporcionou enxergar a luz maçônica e da qual tanto me orgulho. Tentarei ir por partes e peço um pouco de paciência, caso venha extrapolar um pouco o tempo, que eu sei ser de 15 minutos.

A vestimenta maçônica (traje maçônico)

Quando se fala em traje maçônico, logo se pensa em paletó, gravata, sapato preto. Entretanto, temos de levar em consideração que o traje maçônico mesmo é o Avental, sem o qual o obreiro é considerado nu, na acepção de Castellani. Temos de concordar com isto, pois embora a cor da vestimenta (calça, gravata, etc) possa ser diferente para cada Rito ou mesmo dependendo de cada país, o Avental, como diz Jaime Pusch, é a insígnia obrigatória do maçom em loja, não podendo sem ele participar dos trabalhos.

Não há muito que discutir sobre traje maçônico, pois como diz Castellani: “discutir traje em loja é o mesmo que discutir o sexo dos anjos”, devido às variações sofridas nos trajes masculinos através dos tempos, inclusive de povo para povo; em algumas partes do mundo, principalmente em regiões quentes dos estados unidos, os maçons vão às sessões até em mangas de camisa, mas não se esquecem do avental; no Brasil, o traje, antigamente, era previsto nos Rituais (Séc. XIX e início do Séc. XX) como indicação e não imposição, devido à diversidade de ritos.

Posteriormente é que a exigência do traje foi colocada na legislação das obediências, padronizando conforme o rito majoritário no Brasil (REAA); a palavra “terno”, gramaticalmente falando, quer dizer um traje que se compõe tradicionalmente de um trio de peças de roupa: calça, colete e paletó.

Os mais antigos talvez se lembrem que era assim que os homens algumas décadas atrás se vestiam, completando este trio com o uso do chapéu e da bengala. Posteriormente, o colete foi abolido, talvez devido ao clima tropical do brasil. o terno tornou-se, então, um parelho, ou seja, um par, constituído da calça e do paletó, equivocadamente chamado atualmente de terno.

Grande é a controvérsia do uso ou não de terno ou na ausência deste, o balandrau. No Brasil, e só no Brasil, convencionou-se o uso deste, e de acordo com os estatutos de várias obediências o balandrau é “tolerado” em Sessões Ordinárias;

Traje maçônico segundo o RGF-GOB

O RGF do GOB traz em seu Art. 110 que “Os Maçons presentes às sessões magnas estarão trajados de acordo com o seu Rito, com gravata na cor por ele estabelecida, terno preto ou azul marinho, camisa branca, sapatos e meias pretos, podendo portar somente suas insígnias e condecorações relativas aos graus simbólicos”.

“§ 1º – Nas demais sessões, se o rito permitir, admite-se o uso do balandrau preto, com gola fechada, comprimento até o tornozelo e mangas compridas, sem qualquer símbolo ou insígnia estampado”.

O traje maçônico no RGF é definido em relação às sessões magnas, admitindo-se o balandrau nas outras sessões, de forma eventual. Faço aqui os seguintes questionamentos: Por que se exigiu de forma mais clara somente em relação às Sessões Magnas?

A palavra terno diz respeito ao trio paletó, colete e calça, como sempre foi tradicionalmente e gramaticalmente, ou somente ao paletó e calça, já que a palavra terno quer dizer ternário, trio? A palavra eventual significa um acontecimento incerto, casual, fortuito; o verbete eventualmente no RGF tem o mesmo significado? Se tiver, o balandrau pode ser admitido casualmente, em quantidade incerta? Não deveria conter o RGF uma exclusão de proibição do balandrau em sessão magna, já que é usado pelo experto nas iniciações?

Antes de concluir, quero falar um pouco do que é o balandrau, motivo maior deste trabalho.

Definição, origem e uso do balandrau na Maçonaria
Balandrau – do latim medieval balandrana, designa a antiga vestimenta com capuz e mangas largas, abotoada na frente; e designa também, certo tipo de roupa usada por membros de confrarias, geralmente em cerimônias religiosas. Assim, o balandrau não é exclusividade maçônica.

Embora alguns autores insistam em afirmar que o balandrau não é veste maçônica, o seu uso, na realidade remonta a primeira das associações de ofício organizadas (Maçonaria Operativa), a dos “Collegia Fabrorum”, criada no século VI a.C., em Roma. Quando as legiões romanas saiam para as suas conquistas bélicas, os Collegiati acompanhavam os legionários para reconstruir o que fosse destruído pela ação guerreira, usando nesses deslocamentos uma túnica negra.

Da mesma maneira, os membros das confrarias operativas dos Franco-Maçons medievais (Séc XIV e XV), quando viajavam pela Europa Ocidental, usavam o balandrau negro. Segundo outros autores, o uso do balandrau teve início nas funções do Primeiro Experto, durante os trabalhos de iniciação em que atendia o profano na Câmara de Reflexões.

Para outros, como Jaime Pusch e Rizzardo Da Camino, o balandrau foi inicialmente restritivo à Câmara do Meio, no Grau de Mestre de alguns ritos, mas que depois foi aceito, nos outros graus.

Percebemos, através deste pequeno relato, que o balandrau está presente na história da Maçonaria desde o princípio, pois era uma forma de igualar os participantes e proteger suas identidades através do capuz, principalmente da perseguição da inquisição.

Hoje, a vestimenta é tolerada pelas altas autoridades das potências maçônicas e muitas lojas adotam o balandrau como vestimenta oficial para as Sessões Ordinárias, deixando o terno somente para as Sessões Magnas. Isto acontece muito nas cidades grandes, principalmente em função da distância casa-trabalho-loja maçônica. Outras lojas admitem o uso do balandrau somente para visitantes, desde que seja do mesmo rito da loja visitada.

Algumas conclusões sobre o tema em questão
Diante do que foi exposto cheguei a algumas conclusões que, de antemão, afirmo serem bem pessoais. Não peço a ninguém que concorde comigo, mas que respeite a minha forma de pensar como pretendo respeitar o pensamento alheio. Vamos a elas:

• A verdadeira veste maçônica é o Avental. Sem ele o Obreiro é considerado nu, não podendo participar dos Trabalhos.

• Sob o Avental deve haver, porém uma roupa sóbria e decente, sendo o balandrau uma forma de igualar e uniformizar o traje. O uso do balandrau iguala e nivela os maçons em loja. Nada de exigência de ternos, cores de gravata etc. A igualdade na vestimenta demonstra um desapego a toda e qualquer vaidade humana – tão combatida pela Maçonaria – e nivela os IIr.’. em Loja, por uma única veste.

• Em um ponto, os Irmãos têm opiniões coincidentes: o balandrau é veste talar, deve ir até os calcanhares, e pode ser considerado um dos primeiros trajes maçônicos, sendo plenamente justificado o seu uso em Loja;

• Terno quer dizer um traje que se compõe de calça, colete e paletó. Assim, a maioria dos maçons atuais está irregular em loja, já que usamos somente calça e paletó, duas peças, a que se dá o nome de parelho (par);

• Deve haver um equívoco no RGF do GOB no que diz respeito ao terno, usando este termo no sentido do já citado parelho;

• Se observarmos nosso padrão climático e o tecido mais leve, me parece ser o balandrau uma boa ou, talvez, a melhor e mais justificada alternativa.

O balandrau tira de nós a aparência de riqueza, do saber, da ambição, da vaidade; iguala-nos e nos mostra que, independentemente de qualquer posição profana, somos todos iguais, todos IIr.’. em todos os momentos;

• Concluindo este trabalho, queremos dizer que, de acordo com a vontade da Loja, ou talvez de sua diretoria, e também de acordo com o RGF, procurarei ao máximo comparecer às sessões em nossa Loja de parelho ou, como nós mesmos denominamos o conjunto calça e paletó, de terno, para que assim possa haver mais harmonia nos trabalhos, já que o meu balandrau parece incomodar sobremaneira a Diretoria de nossa Loja;

• O mais importante em uma Sessão Maçônica é o clima fraternal criado a partir de emanações de energia dos Irmãos; – em nossas reuniões, dentro do Templo, muitas são as vibrações emanadas de todos os nossos Irmãos, sejam eles Oficiais ou não. Principalmente durante a abertura do Templo, temos a formação da Egrégora. Este é um momento em que todos nós emitimos radiações, e ao usarmos a veste preta, estaremos absorvendo todas essas energias, reativando os nossos Chacras, ou nossos centros de forças, de emissão e recebimento de energia;

• Quando usamos terno preto ou o balandrau, permanecem descobertos nossos Chacras: frontal, laríngeo e coronário. Assim poderemos emitir, receber e refletir vibrações diretamente em nossos centros de força, pois estes estarão descobertos. Em contrapartida, nosso Chacras mais sensíveis estarão protegidos de enviar vibrações negativas durante os trabalhos.

• E a questão maior que deixo hoje para todos nós é justamente esta: Estamos, de fato, emanando bons fluidos? Estamos de fato vivenciando o amor fraternal? Cada um responda por si e a si mesmo somente, que é o mais importante.

sábado, 26 de novembro de 2016

Câncer (ou neoplasia, ou tumor maligno)
 
Câncer (ou neoplasia, ou tumor maligno) é uma classe de doenças caracterizadas pelo crescimento descontrolado de células aberrantes. O câncer mata pela invasão destrutiva de órgãos normais por estas células, por extensão direta ou por disseminação à distância, por sangue, linfa ou superfície serosa.
 
O comportamento anormal das células cancerosas é geralmente espelhada por mutações genéticas, expressões de características ontológicas, ou secreção anormal de hormônios ou enzimas.

Todos os cânceres invadem ou semetastatizam, mas cada tipo específico tem características clínicas e biológicas, que devem ser estudadas para um adequado diagnóstico, tratamento e acompanhamento.

O câncer é a segunda maior causa de morte nos Estados Unidos, e espera-se que no século 21 ele já seja a principal. Aproximadamente 1,2 milhões de novos casos de tumores invasivos são diagnosticados por ano, nos Estados Unidos. Os motivos que levam ao crescimento da incidência do câncer são o aumento da expectativa de vida da população em geral, associada a maior exposição a fatores de risco. O tipo de câncer que mais cresce é o de pulmão, principalmente devido à propagação do hábito de fumar, há 40 anos atrás.

 

Vários fatores podem causar ou contribuir diretamente para uma seqüência de eventos que levem a um meio do câncer se desenvolver. O caminho final comum dos cânceres é alguma alteração genética, que converte uma célula bem constituída, participante do corpo como um todo, numa outra, "renegada", destrutiva, que não responde mais a comandos de uma comunidade de células.

 

Promotores (oncogenes) e supressores têm um papel central em muitos casos. Substâncias químicas como o benzeno, nitrosaminas, agentes físicos, como radiação gama e ultravioleta, e agentes biológicos, como alguns tipos de vírus, contribuem para a carcinogênese em algumas circunstâncias.

O agente carcinogênico mais importante para a população em geral é o tabaco, pois ele causa ou contribui para o desenvolvimento de aproximadamente um terço de todos os cânceres, principalmente em pulmão, esôfago, bexiga e cabeça e pescoço.

O câncer relacionado ao tabaco é também importante devido a sua óbvia, barata e 100 % eficaz prevenção, que é a abstenção.

Quando a prevenção do câncer não é possível, a detecção precoce é a melhor estratégia para reduzir a mortalidade. Campanhas de esclarecimento da população, e também de profissionais de saúde são feitas nesse sentido. Infelizmente, no Brasil são bastante falhas.

 

A oncologia, nos últimos anos, tornou-se uma complexa e interessante disciplina que conta com o auxílio de outras especialidades, como cirurgia, pediatria, patologia, radiologia, psiquiatria e outras, que faz do sucesso um mérito das ações multidisciplinares. Há três passos principais na oncologia, para o bem do paciente.

O primeiro objetivo trata de curar os pacientes, para devolvê-los a um lugar na sociedade. Deve ser tentado em todos os tipos de câncer, mesmo naqueles em que a chance de cura é pequena. Requer uma atitude de esperança e determinação para se derrotar dificuldades e perigos, e às vezes para se enfrentar insucessos.

 

Se mesmo assim a cura não é possível, o médico deve apontar ao segundo objetivo, que seria uma longa e satisfatória remissão da doença, deixando o paciente bem consigo mesmo pelo maior tempo possível, longe de efeitos de uma longa hospitalização. Quando a chance de remissão é remota, o objetivo passa a ser controlar a doença e seus sintomas pelo uso correto de terapêutica paliativa.

O objetivo final visa apenas o conforto do paciente, e não apenas o prolongamento de uma vida sofrida. O médico deve ajudar o paciente a manter a sua dignidade, entender sua fraqueza, e evitar sentimentos de frustração, animosidade ou até excessiva amizade, para desenvolver o bom julgamento para o interesse do paciente. O principal é sensibilidade e bom senso.


RADIOTERAPIA:

é o mais utilizado para tumores localizados que não podem ser ressecados totalmente, ou para tumores que costumam rescidivar localmente após a cirurgia. Tem sérios efeitos colaterais, principalmente por lesão de tecidos normais adjacentes ao tumor. A quantidade de radiação utilizada depende do tipo de tumor, e é medida em rads.


QUIMIOTERAPIA:

Foi o primeiro tratamento sistêmico para o câncer. Na maioria da vezes consiste em uma associação de drogas, pouco eficazes se utilizadas sozinhas, pois nos tumores há subpopulações de células com sensibilidade diferente às drogas antineoplasicas. Os mecanismos de ação das drogas são diferentes, mas sempre acabam em lesão de DNA celular. A toxicidade contra células normais é a causa dos efeitos colaterais (náuseas, vômitos, mielossupressão). Pode ser usada como tratamento principal (leucemias, linfomas, câncer de testículo), mas normalmente é adjuvante, após tratamento cirúrgico ou radioterápico.


TERAPIA BIOLÓGICA:

Usa-se modificadores da resposta biológica do corpo frente ao câncer, "ajudando-o" a combater a doença (linfoquinas, anticorpos monoclonais). Usa-se também drogas que melhoram a diferenciação das células tumorais, tornando-as de mais fácil controle. Este tipo de tratamento, em estudo, é o mais promissor para o futuro.

 

O sucesso da terapia contra o câncer depende da escolha da combinação de dois ou mais modalidades de tratamento, necessitando muito a cooperação entre especialidades. Suporte geral também é muito importante, incluindo controle de distúrbios metabólicos, infecciosos, cardiopulmonares, freqüentes nos pacientes submetidos a tratamentos agressivos.

 

O câncer é fundamentalmente uma doença genética. Quando o processo neoplásico se instala, a célula-mãe transmite às células filhas a característica neoplásica. Isso quer dizer que, no início de todo o processo está uma alteração no DNA de uma célula.

Esta alteração no DNA pode ser causada por vários fatores, fenômenos químicos, físicos ou biológicos. A esta alteração inicial damos o nome de estágio de iniciação


Temos que ter em mente que uma só alteração no DNA não causa câncer. São necessárias várias mutações em seqüência, que ao mesmo tempo não sejam mortais para a célula, e causem lesões estruturais suficientes para causarem uma desregulação no mecanismo de crescimento e multiplicação.


O estágio de promoção é o segundo estágio da carcinogênese. Nele, as células geneticamente alteradas, ou seja, "iniciadas", sofrem o efeito dos agentes cancerígenos classificados como oncopromotores. A célula iniciada é transformada em célula maligna, de forma lenta e gradual. Para que ocorra essa transformação, é necessário um longo e continuado contato com o agente cancerígeno promotor.


Observamos que o câncer ocorre mais freqüentemente em pessoas idosas. A partir dos 55 anos, a incidência da doença cresce em nível exponencial. Isso quer dizer que quanto mais tempo uma pessoa tem para expor seu material genético a um fator qualquer que possa alterá-lo, maior será a chance disso acontecer.


As células têm um mecanismo de reparo do DNA. Mutações genéticas mínimas ocorrem muito freqüentemente, em todas as pessoas. Só que não desenvolvemos câncer rapidamente porque nossos mecanismos de reparo são em geral eficientes. Só que quanto mais tempo se passar, maior será a chance de um "escape". Se vivêssemos até 200 anos, todos provavelmente teríamos algum tipo de câncer. Isso porque passou tempo suficiente para que se acumulassem mutações genéticas em nossas células.


Se o tempo é um fator importante para permitir ao organismo uma maior exposição a elementos potencialmente lesivos para o DNA celular, a exposição a uma maior quantidade desses elementos lesivos também exerce grande importância no desenvolvimento do câncer.


A esses elementos lesivos que acabam por acarretar um aumento na probabilidade de ocorrência de lesões no DNA, e portanto, aumento da incidência de neoplasias, é dado o nome de carcinôgenos.


A ocorrência de mutações, logicamente, ocorre no momento da divisão celular. Isso porque a célula deve estar duplicando o seu DNA, e a possibilidade de erros é maior. Assim, substâncias que levam a um aumento na população de determinadas células são também, indiretamente, agentes capazes de aumentar a ocorrência de mutações genéticas.


A radiação é um tipo de carcinôgeno que age lesando diretamente o DNA da célula. A inflamação crônica de algum órgão, como o intestino, por exemplo, causa aumento da divisão celular, e aumenta a chance de alguma mutação. Dessa forma, gorduras animais, que causam um tipo de inflamação na mucosa intestinal, são carcinôgenos "indiretos".


É por essa razão que se orienta uma dieta com fibras. Essa dieta aumenta o volume do bolo fecal, diminuindo o tempo de exposição de todas as substâncias à mucosa intestinal, além de diminuir a concentração da gordura animal na massa fecal total.


A ação de hormônios é semelhante. Eles aceleram a divisão celular de alguns tipos de células, facilitando a ocorrência de mutações.


O fumo desenvolve uma ação carcinogênica mista. Ele tanto é capaz de lesar o DNA das células do corpo inteiro, diretamente, quanto são irritantes da mucosa, causando também uma inflamação crônica nas mucosas da boca, garganta, brônquios e pulmões. É por isso que o fumo pode causar também câncer de bexiga e pâncreas, por exemplo, não ficando limitado às vias aéreas.


As alterações específicas geradas no DNA que esses vírus causam ainda não estão bem determinadas. O que se sabe é que há uma completa integração do genoma do vírus no genoma (DNA) da célula hospedeira, sendo que esta célula dará origem à oncogênese.


As neoplasias ditas hereditárias estão relacionadas com a perda de genes supressores de tumor. Isso explica a quase totalidade das doenças neoplásicas que existem em crianças, geralmente produzidas por um aumento da predisposição ao desenvolvimento de tumores já ao nascimento.


Outras situações em que pode ocorrer lesão direta do DNA é quando ocorre invasão celular por vírus. Como exemplo mais evidente temos o vírus das hepatites B e C, que a longo prazo podem causar câncer hepático. Também há a associação do papilomavirus (HPV) com o câncer de colo de útero.


Estágio de progressão é o terceiro e último estágio e se caracteriza pela multiplicação descontrolada e irreversível das células alteradas. Nesse estágio o câncer já está instalado, evoluindo até o surgimento das primeiras manifestações clínicas da doença.


Não podemos encarar o câncer como um processo que tenha uma causa específica. A neoplasia é o produto de um processo genético inicial, invariavelmente seguido de um outro, e assim por diante, desencadeando algo como uma cascata de derrubadas de dominó. Por carcinogênese se entende, portanto, todo o processo que se inicia na primeira mutação e termina nas alterações moleculares que resultam no câncer clinicamente detectado.


Curiosidades


1- Câncer, é uma palavra derivada do grego "karkinos";

 

2- Câncer não é uma doença única, mas 200 doenças distintas cada uma delas com suas próprias causas, história natural e tratamento;

 

3- O câncer compreende um grupo de doenças que aflige a raça humana e a animal;


4- O câncer é caracterizado por um crescimento autônomo, desordenado e incontrolado de células que ao alcançarem uma certa massa, comprimem, invadem e destroem os tecidos normais vizinhos;


5- Não se conhecem a causa ou causas de 85-90% do câncer;


6- Câncer ambiental é aquele em que o meio ambiente tem papel direto ou indireto em sua causa;


7- Em 1802 na Inglaterra, o "Comitê da Sociedade para melhorar as condições e conforto dos pobres" colocou entre 13 perguntas a seguinte: "Há alguma influência do clima ou das condições locais que facilitem qualquer tipo de câncer em qualquer parte do corpo?";


8- Os estudos epidemiológicos indicam que os fatores ambientais são importantes na causa da maioria dos cânceres;


9- De 80% a 90% dos cânceres resultam de fatores ambientais (Higginson and Doll);


10- Idade é o determinante mais importante para o risco de câncer;


11- Na maioria dos carcinomas (Ca epiteliais) as taxas de incidência aumentam constantemente com a idade. Isto se explica pelo efeito cumulativo da exposição à diferentes tipos de carcinôgenos;


12- Para alguns tipos de tumores (leucemias, lla e tumor de testículo) a maior incidência ocorre nos primeiros 4 anos de vida e entre os 20-24 anos, respectivamente;


13- Fumar dá câncer;


14- Exposição excessiva ao sol aumenta o risco de câncer da pele;


15- O câncer ocorre a qualquer idade, porem é mais frequente em pessoas de idade avançada;


16- A cura do câncer é definida como: ausência de tumor após o tratamento, por um período de vida tão longo como o do aquele que não teve câncer;


17- O câncer NÃO é uma desgraça social, uma punição divina ou um estigma pessoal;


18- Os oncologistas, com as novas tecnologias e tratamentos, hoje oferecem maior índice de cura respeitando a dignidade do ser humano, sua qualidade de vida e relacionamento familiar e social;


19- A cura do câncer depende de tratamento multidisciplinar;


20- Os fatores ambientais (macro e micro) são responsáveis por 80% dos tumores malignos, e os fatores endógenos e genéticos responsáveis pelos outros 20%;


21- América Latina tem alta incidência de tumores associados com a pobreza (colo do útero e estômago);


22- Os dados de mortalidade mostram que os tumores malígnos ocupam os primeiros lugares em todos os paises, e a tendência é de aumentar na faixa etária de 45-65 anos;


23- A faixa de mortalidade por câncer é maior entre as mulheres do que nos homens em todos os paises, numa faixa etária de 30-64 anos. Isto se explica pela alta incidência de colo de útero e mama;


24- Alguns tipos de câncer, se diagnosticados em tempo e tratados corretamente, tem cura;


25- As crianças respondem melhor ao tratamento oncológico.


Fonte: Dra. Lucíola de Barros Pontes, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein