sábado, 30 de abril de 2011

A PRECE DE FRANCISCO DE ASSIS


 Vejamos uma oração de São Francisco, proferida dentro de uma Casa de Saúde, à epoca, onde existiam internados dezenas de doentes da lepra, cujos corpos de muitos era uma ferida só, exalando mau odores insuportáveis, e o próprio Francisco cuidando das feridas, muitas vezes beijava os doentes e afirmava que o Mestre Jesus pedia assim: - Francisco, cuida destas minhas ovelhas, elas são filhas do Calvário, agredidas pelos próprios destinos.

- E Francisco respondeu mentalmente.

- Sim, Senhor, sim! Eu cuidarei!

Continuando convidava a todos para juntos orarem a prece abaixo:

- Benditas sejam as dificuldades que nos agridem e fazem pensar.

- Benditas sejam as horas que gastamos em função do bem eterno.

- Bendito seja quem nos maltrata à primeira vista e nos ajuda a melhorar.

- Bendito seja quem não nos conhece e não acredita em nós.

- Bendito seja quem nos compara com vagabundos e indolentes.

- Bendito seja quem nos expulsa, como parias ou fanáticos.

- Bendita seja a mão que nos nega o sofrimento.

- Bendito seja quem quer nos esquecer, impaciente.
 
 - Bendito seja quem nega o pão de cada dia.

- Bendito seja quem nos ataca, por ignorância e covardia.

- Bendito seja quem nos experimenta no correr do tempo.

- Bendito seja quem nos faz chorar nos caminhos.

- Bendito seja quem não nos agrada no momento.

- Bendito seja quem exige de nós a perfeição.

- Benditos sejam os que nos maltratam o coração porque, verdadeiramente, são estes, meus filhos, os nossos vigilantes e os que nos ajudam a seguir o Cristo com maior segurança, pois Deus, através deles, nos ajuda na auto-educação, de maneira que fiquem abertas todas as portas para o Amor Universal.










sexta-feira, 29 de abril de 2011

"Não existem atalhos. Não se iluda".


Do livro “JACK definitivo” Segredos do executivo do século, de Jack Welch e John A. Byrne.



“A disputa estava acirrada, e já na prorrogação permanecia o empate de 2 a 2.
Mas, de repente, o outro time marcou um gol e perdemos de novo. Num acesso de raiva, atirei longe meu vestuário e dirigi-me ao vestiário. O time já estava lá, despindo os uniformes. De súbito, a porta se abriu e lá irrompeu minha mãe.

O recinto mergulhou em silêncio. Todos os olhos se grudaram naquele mulher de meia-idade. Ela se encaminhou diretamente em minha direção e agarrou a parte superior de minha roupa.

- Seu paspalho! – gritou ela na minha cara. – Se você não souber perder, nunca saberá ganhar. Se você não for capaz disso, não deve entrar no jogo.

Fiquei desolado – fora humilhado diante de todos os meus amigos – mas nunca esqueci aquelas palavras. A paixão, a energia, a decepção, e o amor que ela demonstrou com aquela atitude. Ensinou-me o valor da competição, assim como me impregnou do prazer da vitória e me imbuiu da capacidade de superar as derrotas.

Uma de suas expressões favoritas era: “Não se iluda. Essa é a realidade.” “Se não estudar”, ela sempre admoestava. “você não será nada. Absolutamente nada. Não existem atalhos. Não se iluda”.

Desde os primeiros dias na escola, ela ensinou-me a necessidade de dar o melhor de mim. Ela era rigorosa comigo, mas também sabia ser carinhosa e me dava beijos. Minha mãe fazia questão que eu soubesse o quanto era querido e amado.












quinta-feira, 28 de abril de 2011

A MAÇONARIA E O CRISTIANISMO


A MAÇONARIA E O CRISTIANISMO


Ao apresentarmos um trabalho a nossa intenção em expormos é acima de tudo transmitir a verdade maçônica, pois, segundo JAURÉS, é mais importante dizer a verdade do que ser ministro. Além disso, é óbvio, que o primeiro e talvez maior beneficiário das bênçãos que esparge seja o expositor; a maneira do frasco de perfume, ainda que doe todo o seu conteúdo, jamais perde a fragrância.

Todos os irmãos aqui presentes, sabem de cor e salteado que a maçonaria é boa e digna de apreço, onde está, no que é, no que pretende fazer, no que executa. É esplêndida organização social, filantrópica e de benemerência humana, terrena e temporal. O Cristianismo é ótimo, é superlativamente sublime, é único e impar, digno de máximo apreço, como está, no que é, no que faz e no que será para todos os tempos; a religião divina, a fé revelada indestrutível, o Evangelho Consolador nascido das chagas do verbo santo, a magistral obra maior do Nazareno, filho maior de Deus nosso Pai. Poderemos, também, afirmar de uma forma simples, e, ao mesmo tempo, reta, lógica e efetiva; a Maçonaria não é, não quer ser, não deseja ser o Cristianismo; O Cristianismo não é, não pode ser e não quer ser a Maçonaria. Maçonaria=(igual) Cristianismo? NÃO. Maçonaria +(mais) Cristianismo? Também não. Maçonaria -(menos) Cristianismo? De modo algum. Maçonaria contra o Cristianismo? JAMAIS. O conceito reunido seria Maçonaria e Cristianismo. São duas entidades, duas associações, sob o aspecto militante, duas existências limpas no campo de ação, duas corporações próprias. Uma é ordem(no clima social). Outra é Igreja(no setor espiritual). Uma é esforço humano, em prol dos homens, para o bem humano. Outra é força divina, pão do céu, manjar eterno, para o homem em todos os tempos, agora e para sempre, para o presente e o futuro. para corrigir e salvar. Uma é mão amiga para os amigos. Outra é mãe espiritual(simbolicamente), mãe de almas, amigas e inimigas. A maçonaria é o fruto. O Cristianismo é a árvore que dá esse fruto. Há na Maçonaria anseios de fé, gritos de esperança, reflexos da imortalidade, hinos de espiritualidade, cópias de verdades reveladas, a BUSCA DO BEM. A Maçonaria não é o Cristianismo; o Cristianismo não é a Maçonaria. Ambos são o que são, no seu lugar, na sua estrutura, na sua origem, nas suas finalidades, nos seus estatutos, nos seus limites, na sua razão de ser. Não brigam entre si. Não colidem. Não usurpam terrenos um do outro, não se contrariam. Absolutamente não. Se a Maçonaria exige juras, que mal vai nisto? Não as exige o Estado, a Família, a própria Igreja? Podemos afirmar com segurança que a Maçonaria é útil e que o Cristianismo é ótimo. Aquela, como Associação de ORDEM natural. Esta, como estruturação de Ordem sobrenatural. Na Maçonaria a gente aprende a viver em sociedade e com a sociedade. No Cristianismo a gente aprende a viver com DEUS e com a família humana. Ambas são úteis e imprescindíveis ao desenvolvimento humano.

O filósofo e matemático PITAGORAS afirmava assim: ‘AMICUS PLATO, SED MAGIS AMICA VERITAS”, traduzindo entende-se, “CALA-TE, OU DIZ ALGUMA COISA QUE VALHA MAIS QUE O SILÊNCIO”.

Aconselham os estudiosos da Maçonaria que seremos eternamente aprendizes, nunca subestimemos a gama infinita de sabedoria ainda pôr explorar, além de tudo os chineses dizem que, quando se chega ao cume, qualquer movimento é para baixo. Parem, irmãos! Qualquer envaidecimento poderá ser fatal ao nosso desenvolvimento. HUMILDADE SEMPRE E SEMPRE.

Quando ingressamos na Maçonaria, não o fizemos seduzido pela maçonaria ideal, poética, mas, simplesmente pela índole sublime, liberal e milenar, onde observamos esta sublimidade no livro “ O PAPA NEGRO”, cujo espírito de solidariedade e fraternidade entre os maçons é de uma super compreensão humanitária, com vigoroso ideal no sentido de aproximar os homens de todos os matizes, a despeito das diferenças que os possam separar. Podemos, ainda, observar o acervo de benefícios que a Maçonaria tem prestado a humanidade, além de inúmeras conquistas no campo social, político e filantrópico, jamais superadas por qualquer outra instituição, com exceção, é óbvio, do Cristianismo. O que encontramos aqui dentro, excedeu a nossa expectativa: ambiente sadio, acolhedor e amigo, oportunidades valiosas e freqüentes para o exercício da filantropia desinteressada.

No Cristianismo cultivamos a fé, dando ÊNFASE AO ESPIRITUAL. Na Maçonaria encontramos diversas oportunidades de fazer o bem, praticar boas obras, pois ela exalta a beneficência desinteressada, a educação, o progresso e estabelece de forma definitiva o culto ao dever e a obediência. Assim, não procede a afirmação caluniosa de há muito ser a Maçonaria rival do Cristianismo. Se assim fosse, então o ROTARY, o LIONS, e várias outras associações de benemerência, operantes entre nós, seriam de fato rivais do Cristianismo, e, portanto, mereceriam a nossa formal repulsa. Entretanto, tal fato não ocorre, conforme constatamos na realidade. Muitas inverdades foram lançadas contra o Cristianismo à época de JESUS e muitas perseguições aconteceram como é do conhecimento de todos os maçons. Existem, ainda hoje, muitas mentiras divulgadas contra a nossa Ordem, quais sejam:

a) PENA DE MORTE na Maçonaria, inclusive, dizem que possuímos uma legislação específica sobre o assunto. Apenas a título de ilustração, pesquisamos no Dicionário Enciclopédico Abreviado da Maçonaria, de ABRINES, considerado o mais minucioso pesquisador da história maçônica, que nos relata a história do Capitão do exército americano chamado MORGAN -maçom que nos USA no século XIX, provocou um incidente planejado pelo CAPITÃO e Editores ricos e famosos, que durante muito tempo trouxe lamentáveis conseqüências a ORDEM. Em 1826, na LOJA DE NOVA IORQUE, denominada “A RAMA DE OLIVEIRA”, da qual era membro apesar da quase metade dos irmãos votarem contra a sua entrada, fundamentada na sua conduta pouco recomendada. E lá dentro, decretou-se sua expulsão e para revidar anunciou publicar um livro escandaloso revelando os segredos da ORDEM de uma forma presunçosa e caluniosa. Este fato provocou a indignação dos maçons. Após publicar seus escritos, Morgan desaparece misteriosamente. Os inimigos gratuitos da Ordem informavam que este fora seqüestrado e assassinado por membros da Ordem. A partir deste dia iniciou-se uma intensa campanha de descrédito contra a Maçonaria. Esta agitação anti-maçonica durou muitos anos sendo as Lojas nos USA obrigadas a suspender suas reuniões em face de clima tenebroso da população contra a Ordem. Pouco a pouco a campanha contra a Ordem foi decaindo e totalmente anulada em 1832, quando se provou e comprovou que Morgan vivia tranqüilamente na TURQUIA onde gastava uma fabulosa soma de dinheiro recebido dos caluniadores e afobados editores do seu livro. O cadáver encontrado no lago ONTÁRIO de NOVA IORQUE não era de Morgan como se supunha. Assim como ocorre de vez em quando encontra-se cadáver no rio TIETÊ, em SÃO PAULO, sem conseguir-se identificá-lo. Observamos, em verdade, que a PENA DE MORTE é tão verdade dentro da Maçonaria como a lenda do BODE PRETO para amedrontar os neófitos. Pessoas existem que não se conformam face a posição que a maçonaria ocupa no mundo, procurando desmontá-la, desmoralizá-la, sempre insistindo nesta tecla de inverdade.

Por todos os confins da Terra, há cristãos filiados a SUBLIME ORDEM, sem que apareça problemas de incompatibilidade. Por exemplo, na Loja AMIZADE, de São Paulo, no ano de 1958, sendo Venerável o Padre católico-romano FORTUNATO GONÇALVES PEREIRA DE ANDRADE, foi resolvido que se emprestasse as salas externas do TEMPLO MAÇÔNICO aos irmãos maçons-protestantes, para os mesmos aos domingos celebrassem os cultos de sua religião, um exemplo admirável de verdadeira compreensão, tolerância e amor. Este é apenas um exemplo dos milhares que existem pelo mundo afora de religiões que funcionam em prédio da LOJA. Quem desapaixonadamente perlustrar, pesquisar a história da maçonaria verá que Ela só foi combatida pelos totalitários, incompetentes, corruptos, quer políticos, quer religiosos, de todos os tempos. Apenas para ilustração, para rememorar neste século tivemos as investidas de personalidades mundialmente conhecidas como Salazar, em Portugal, Mussolini, na Itália, Hitler, na Alemanha e Franco, na Espanha.

Comenta-se que alguns cristãos inadvertidamente, afirmam que o Cristo não tem acesso a Maçonaria. Em verdade, sabemos que as atividades dos maçons se conduzem por linhas de ética cristã. Achamos, contudo, que o Nazareno muitas vezes, não tem ingresso em certos templos exclusivistas, onde imperam preconceitos dos mais diversos que apenas servem para separar os homens, como nos conta aquela anedota americana de um negro que, nos USA se queixava a JESUS, em oração, de que estava acabrunhado por não ter sido admitido em certa Igreja, ao que o Mestre lhe respondeu: NÃO TE DESANIMES, PORQUE EU TAMBÉM NAO O CONSEGUI.

O Cristianismo teve seu nascimento a mais de dois mil anos atrás, com JESUS. A Maçonaria nasceu da grande necessidade de união e associação entre os homens primitivos há vários milhares de anos, ou mesmo como se supõe, no EGITO há cerca de dez mil anos. O que é certo, porém, é que A ORDEM dois mil anos antes do REI SALOMÃO, tomou forma regular e depois de muitos anos é que se consolidou , chegando a ter, em vários países, como aqui tem, Personalidade Jurídica.

A mais violenta cisão da Igreja Romana com a Maçonaria resultou de pretender o PAPA CLEMENTE XII que a Instituição maçônica abrisse guerra contra os Protestantes. E dai, data toda essa criação de cismas que chega aos nossos dias de uma forma pálida de caráter quase irreconciliável. No entanto, no Brasil, contou a Maçonaria como seus filiados, vários Prelados, Padres de alto saber e profunda moral religiosa e privada, entre eles destacamos o PADRE ANTONIO DIOGO FEIJÓ, além de inúmeras e ilustres figuras. Mas, a MAÇONARIA não tem culpa desse conflito. Ela sofre as conseqüências do seu sadio idealismo, que não transgride com o dever e o direito, CUSTE O QUE CUSTAR. Na política, pugna pela liberdade; na religião pelo pensamento livre; e na moral, pelo amor e pelo bem da humanidade.

Sempre é bom exemplificar: A MAÇONARIA foi responsável por dois grandes eventos máximos da história da humanidade que foram a QUEDA DA BASTILHA e a QUEDA DA INQUISIÇÃO. Na QUEDA DA BASTILHA, proclamou-se os direitos do Homem, sonegados pela tirania secular. Na QUEDA DA INQUISIÇÃO, proclamou-se a liberdade de consciência, que implicava no recuo de três séculos de dor, morte e destruição, sob o inominável despotismo dos AUTOS DE FÉ. A REVOLUÇÃO FRANCESA(14 de julho de 1789), de cujo movimento libertador surgiu o grande lema da Maçonaria LIBERDADE - IGUALDADE - FRATERNIDADE, além da DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM. Foi a vitória da maçonaria cujos princípios fundamentais são: OS HOMENS NASCEM E SE CONSERVAM LIVRES E IGUAIS EM DIREITO. SÃO DIREITOS DO HOMEM: A LIBERDADE, A PROPRIEDADE, A SEGURANÇA E A RESISTÊNCIA A OPRESSÃO. TODOS TEM O DIREITO DE CONCORRER, POR SI E POR SEUS REPRESENTANTES, PARA A FORMAÇÃO DA LEI. NINGUÉM PODE SER CONSTRANGIDO A FAZER SENÃO O QUE A LEI ORDENAR... TODOS PODEM FALAR, ESCREVER, IMPRIMIR LIVREMENTE, RESPONDENDO CADA UM PELOS ABUSOS QUE COMETER.

Enfim. o Cristianismo é o sistema religioso fundado por NOSSO SENHOR JESUS CRISTO e seguido pelos povos que se crêem os mais civilizados. Os ensinamentos do Cristianismo estão registrados nos 27 livros do NOVO TESTAMENTO e nos 39 livros do ANTIGO TESTAMENTO. O Cristianismo encerra as mais sublimes máximas, e, vejamos algumas máximas:

FAZEI AOS OUTROS O QUE QUERAIS QUE ELES VOS FAÇAM.

AMAI OS VOSSOS INIMIGOS.

PERDOAI NÃO SOMENTE 7 VEZES, MAS SETENTA VEZES SETE(isto é, sem limites)

AMA A TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO E A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS.

NÃO JULGUEIS, PARA QUE NÃO SEJAIS JULGADOS...

E OUTRAS MÁXIMAS DE ALTO PADRÃO MORAL.

A Maçonaria na sua Constituição, no seu artigo primeiro, assim a define:

A MAÇONARIA É UMA INSTITUIÇÃO ESSENCIALMENTE CARITATIVA E FILANTRÓPICA, FILOSÓFICA E PROGRESSISTA, QUE TEM POR OBJETIVO A INDAGAÇÃO DA V E R D A D E, O ESTUDO DA MORAL E A PRÁTICA DA SOLIDARIEDADE, TRABALHANDO PELO MELHORAMENTO MATERIAL E MORAL E PELO APERFEIÇOAMENTO INTELECTUAL E SOCIAL DA HUMANIDADE.

Finalizando, poderíamos citar várias definições de estudiosos do CRISTIANISMO e da ORDEM MAÇÔNICA, mas, para última apreciação registramos a penas a opinião do PADRE M. BERNARDES.

“OS FINS DA MAÇONARIA EM NADA SÃO OPOSTOS AOS DOGMAS DA RELIGIÃO DE JESUS CRISTO E, SE FOSSEM, EU SERIA INDIGNO MINISTRO OCUPANDO UM LUGAR EM MEIO DESSES HOMENS. A MÓVEL MAÇÔNICA É TODA SANTA, E O DIVINO MESTRE FOI O MAIS FIEL DOS SEUS ADEPTOS”.







bibliografia:
A MAÇONARIA E O CRISTIANISMO
O PAPA NEGRO
DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO ABREVIADO DA MAÇONARIA
LENDAS MAÇÔNICAS.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

DEUS É AMOR! João, o Evangelista


Disse João em sua primeira Carta:

“Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor. Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele. Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado. Nisto conhecemos que permanecemos nele, e ele, em nós: em que nos deu do seu Espírito.” (1 Jo 4.8-13)

Quem ama, perdoa e auxilia no crescimento do próximo, fazendo com que as relações humanas se aproximem cada vez mais do modelo proposto pelo Senhor.

Muita paz a todos!

”Os homens cultos e inteligentes, segundo o mundo, fazem, geralmente, tão elevada opinião de si mesmos e de sua superioridade, que consideram as coisas divinas, como indignas de sua atenção. Preocupados somente com eles mesmos, não podem elevar o pensamento a Deus."

"É por isso que a humildade se tornou cartão de ingresso no Reino dos Céus."

Parábolas e Ensinos de Jesus, de Cairbar Schutel,




terça-feira, 26 de abril de 2011

AS INCONSOLÁVEIS DE RAMADAM


AS INCONSOLÁVEIS DE RAMADAM

NA CIDADE DE NIANPOR, NA ÍNDIA, VIVIA OUTRORA UM SÁBIO HINDU QUE SE TORNOU FAMOSO PELO CONHECIMENTO QUE TINHA DAS CRENÇAS E COSTUMES DE TODOS OS POVOS.

CHAMAVA-SE CAVIRA, O BRAGAVAM. UM DIA CAVIRA E SEU FIEL DISCÍPULO LARIMASSEM, ESTAVAM PASSEANDO NA FLORESTA, QUANDO VIRAM UM BARULHO ENSURRECEDOR. O DISCÍPULO ASSUSTADO DISSE:

- MESTRE, FORÇAS DEMONIACAS DEVEM ESTÁ NESTA FLORESTA.

– MEU FILHO, NA VIDA TUDO É SIMPLES E MUITO NATURAL.

ESTE BARULHO QUE ESTAMOS A OUVIR SÃO OS LENHADORES QUE ESTAM OBRIGANDO OS ELEFANTES A CARREGAREM TORAS DE ÁRVORES E O BARULHO DA FOLHAGEM É O QUE ESTAMOS A OUVIR.

MAS ADIANTE, ELES VIRAM OS ELEFANTES LEVANDO AS TORAS.

- ESTÁ VENDO, MEU FILHO, NA VIDA TUDO É SIMPLES E NATURAL.

MAS ADIANTE, ELES ENCONTRAM TRÊS MULHERES ENCHARCARDAS EM LÁGRIMAS.

MESTRE, ALGO DE MUITO TERRÍVEL DEVE TER ACONTECIDO COM ESTAS MULHERES.

MEU FILHO, ESTAS MULHERES CHORAM POR MOTIVOS SIMPLES E NATURAIS, FRUTO DA NATUREZA FEMININA.

VEJAMOS A PRIMEIRA MULHER: POR QUE CHORAS?

AH! SENHOR, MEU MARIDO NÃO QUER ESPANCAR-ME, RECURSA A MALTRATAR-ME, É POR ISSO QUE CHORO.

MESTRE, QUE ABSURDO, ONDE JÁ SE VIU CHORAR POR UM MOTIVO DESSES?

VEJAMOS A SEGUNDA MULHER.

PORQUE CHORAS? OH! INFELIZ? AH! SENHOR SOU LASMINA, FILHA DE ABDUR BEM RAMEDE, A MULHER MAIS INFELIZ DO MUNDO. MEU MARIDO NÃO QUER CASAR COM OUTRA MULHER.

ESTE MOTIVO É MUITO MAIS ABSURDO QUE O PRIMEIRO. ESTA MULHER QUER QUE SEU MARIDO TENHA OUTRA.

MEU FILHO, NA VIDA TUDO É MUITO SIMPLES E NATURAL. VEJAMOS A TERCEIRA.

POR QUE CHORAS? AH! SENHOR CASEI-ME UNICAMENTE POR INTERESSE, NÃO NUTRO PELO MEU MARIDO NENHUM AFETO, NENHUM SENTIMENTO. AGORA SOUBE QUE ELE TEM MENOS DE UMA SEMANA DE VIDA. PEDI QUE ELE ME REPUDIASSE, DESSE-ME O DIVÓRCIO, MAS ELE PENALIZADO COM A SORTE DE MINHA FAMÍLIA, NÃO ACATOU MEU PEDIDO. E, AGORA, ELE VAI MORRER E EU VOU FICAR VIÚVA. É POR ISSO QUE EU CHORO.

MESTRE, QUE ABSURDO, SE ELA CASOU POR INTERESSE. POR QUE QUER DIVORCIASSE? NOTANDO A APREENSÃO DO DISCIPULO O MESTRE ESCLARECEU:

A PRIMEIRA MULHER É DO PAQUISTÃO, SEGUNDO UMA ANTIGA LEI, O MARIDO QUE BATE NA MULHER TEM QUE DÁ A ELA A TÍTULO DE INDENIZAÇÃO, JÓIAS E VESTIDOS CUSTOSOS. COMO ELE NÃO A ESPANCA, ELA NÃO PODE EXIGIR DELE AS JÓIAS E OS VESTIDOS. LOGO ESTA MULHER CHORA POR UM MOTIVO SIMPLES E NATURAL. CHORA POR VAIDADE.

- A SEGUNDA MULHER É UMA MAOMETANA, COMO SABEMOS OS MULÇUMANOS PODEM TER ATÉ QUATRO ESPOSAS. COMO ELA É A ÚNICA, QUER QUE O SEU MARIDO ARRUME OUTRA PARA QUE ELA POSSA DIVIDIR COM ELA OS AFAZERES DOMÉSTICOS E CONSERVAR-SE BELA E FORMOSA PARA O HOMEM QUE ELA AMA.

E A TERCEIRA MULHER, MESTRE.

A TERCEIRA MULHER É MAIS SIMPLES AINDA, É UMA HINDU CUJAS SEITAS RELIGIOSAS SÃO INTOLERANTES. SEGUNDO A LEI, O MARIDO QUANDO MORRE É QUEIMADO NA FOGUEIRA E A VIUVA TEM QUE SE JOGAR NA FOGUEIRA, JUNTO COM ELE. COMO ELA NÃO O AMA NÃO SE SENTE COM CORAGEM PARA FAZER TAL SACRIFÍCIO. LOGO ESTA MULHER CHORA POR UM MOTIVO SIMPLES E NATURAL. CHORA PORQUE TEM MEDO DA MORTE. E HAVERÁ MOTIVO MAIS SIMPLES E NATURAL QUE O INSTINTO DE CONSERVAÇÃO DA VIDA.

Do livro HISTORIA DE MALBATAAN

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Os Juízes e a Maçonaria


Os Juízes e a Maçonaria

No último fim-de-semana de Outubro de 2008, decorreu o VIII Congresso dos Juízes Portugueses, no decurso do qual foi discutido o “Compromisso ético dos juízes portugueses”.



Justiça Contrariamente ao que a direção da ASJP pretendia e do que chegou a ser noticiado, tal compromisso não foi aprovado pelo congresso. Foi sim considerado “uma referência válida e importante para o debate no seio dos juízes portugueses”, uma vez que houve vários juízes que se opuseram à sua aprovação naquelas circunstâncias e sem o aprofundamento da discussão.

Como se afirma na introdução desse documento, proposto pela Direção da ASJP, o mesmo “… não se confunde com as normas deontológicas previstas no estatuto nem tem vocação disciplinar ou sancionatória, acolhe os princípios de ética judicial reconhecidos pelos juízes …”.

Tal documento consagra os princípios da independência, da imparcialidade, da integridade, do humanismo, da diligência, da reserva e do associativismo judicial. É justamente o comentário 3º ao princípio da imparcialidade[1] que provoca esta minha intervenção.

Aí se diz: “O juiz não integra organizações que exijam aos aderentes a prestação de promessas de fidelidade ou que, pelo seu sincretismo, não asseguram a plena transparência sobre a participação dos associados.”.

Imediatamente, esta foi considerada uma referência à Maçonaria e ao Opus Dei (cf. Correio da Manhã de 23/11/2008, que titula “Maçonaria sem Juízes”) e temos que concordar que essa é uma interpretação absolutamente legítima.

Tanto assim é que o Sr. Desembargador Dr. Rui Rangel, que creio não ser Maçon., pondo em causa o conteúdo daquele documento, escreveu no mesmo jornal: “E o que dizer da ofensa que lhe está subjacente, feita a muitos juízes associados que agora ficaram, a saber, que não tem ética porque pertenceram ou pertencem Maçonaria ou ao Opus Dei ou porque exerceram ou exercem funções em comissões de confiança política.”.

Uma tal posição, no que à Maçonaria diz respeito, só pode ser conseqüência de preconceitos que muito mal ficam a juízes (o compromisso foi elaborado por juízes), até porque é conseqüência, desde logo, da ignorância, que poderia ser facilmente suprida com um pouco de trabalho: bastavam consultar os sítios da UGLE[2] e da GLLP na internet, para se concluir que a Maçonaria regular não oferece qualquer perigo de tornar os juízes menos imparciais, pelo contrário, impõe-lhes uma conduta de acordo com a lei e os princípios da mais alta ética profissional.

Assim, “Nas Doze Regras Da Maçonaria”, publicadas no sítio da GLLP, além do mais, diz-se:

“…

6. A Maçonaria impõe a todos os seus membros o respeito das opiniões e crenças de cada um. Ela proíbe-lhes no seu seio toda a discussão ou controvérsia, política ou religiosa. É um centro permanente de união fraterna, onde reina a tolerante e frutuosa harmonia entre os homens, que sem ela seriam estranhos uns aos outros.

10. Os Maçons cultivam nas suas Lojas o amor da Pátria, a submissão às leis e o respeito pela Autoridade constituída. Consideram o trabalho como o dever primordial do ser humano e honram-no sob todas as formas.

Ora, eu não vejo donde se possam retirar destes princípios ou doutros que a pertença à Maçonaria possa pôr em causa a imparcialidade de um magistrado.

E eu acrescento: quantas organizações podem dizer como nós podemos que nos seus rituais se jura a obediência à magistratura civil, conforme todos os II. um dia terão oportunidade de presenciar?

Há uns anos, no Reino Unido foi discutido no Parlamento se os juízes e polícias deviam ser obrigados a revelar a sua filiação na Maçonaria e o Terceiro Relatório da Comissão de Assuntos Internos do Parlamento decidiu, em Março de 1997, recomendar que fosse elaborado um registro dos Membros das magistraturas que fossem Maçons. Em 17/02/1998, o Ministro do Interior anunciou que o Governo tinha aceitado a recomendação da Comissão. De acordo com essa decisão, o “Lord Chancellor” (Procurador Geral) decidiu que todos os novos nomeados para as magistraturas sob a sua responsabilidade devem declarar se são Maçons[3].

A este propósito, afirmava José Augusto Seabra, em 23/03/1998, num artigo no “Público”: “O retorno recorrente de alguns fantasmas que continuam ainda a povoar certas mentes arcaicas, entre nós, é bem sintomático de como, sob o véu hipócrita de uma falsa “transparência”, nelas se escondem velhos e obscuros demônios, sempre prontos a irromper à superfície quando as circunstâncias se lhes antolham propícias. Quem diria, na verdade, que a obsessão fóbica quanto ao sincretismo maçônico serviria de pretexto, em pleno regime democrático, para se tentar pôr em causa liberdades e direitos fundamentais e sagrados, em termos que fazem lembrar, curiosamente, com uma forte conotação “retro”, os idos da institucionalização da ditadura, após a queda da República democrática?”.

Por outro lado, em editorial do “Expresso”, escrevi, em 17/03/1998, Henrique Monteiro: “… Numa sociedade aberta e democrática, como hoje são praticamente todas as sociedades ocidentais, haverá razão para a existência de associações cujos membros não se dão a conhecer? O fato de esses elementos, sobretudo aqueles com responsabilidades elevadas no Estado, como os magistrados, poderem ter obediências não conhecidas, não acaba por lhes conferir vantagens ou possibilidades superiores (ou, pelo menos, desiguais) às dos seus colegas que não contam com as mesmas fidelidades?”. E continua: “É, além disso, uma sociedade na qual os valores, sejam eles os da Liberdade e Fraternidade maçônica, ou os do catolicismo de organizações como o «Opus Dei», não estão nem podem estar ameaçados, precisamente porque é uma sociedade aberta, onde se respeitam as convicções individuais que não prejudiquem o conjunto.”. Mas reconhece que esta questão é mais complexa do que isto e que existem outras fidelidades, construídas em universidades, clubes desportivos, sindicatos e outros, que são mais ou menos incontroláveis, e que os próprios Estados não prescindem de organizações secretas. Termina dizendo que a proposta de Blair (tal proposta foi dele) faz sentido no plano teórico, mas é totalmente ingênua no plano prático.

Este tipo de atitudes e preconceitos, no passado, levou à perseguição da Maçonaria. Para disso ter uma idéia, basta ver o excelente artigo de Ferrer-Benimeli, Jesuíta espanhol e um dos maiores especialistas na Maçonaria, no qual se explica que todas as ditaduras do século XX, de direita e de esquerda (com exceção de Cuba) proibiram a Maçonaria e perseguiram os Maçons[4].

Por exemplo, Salazar fez aprovar na Assembléia Nacional a Lei n.º 1.901, de 21/05/1935, que, apesar de nunca falar da Maçonaria, a ela se dirigia diretamente (até porque não consta que durante o seu governo a Opus Dei tivesse sido proibida ou perseguida). Na verdade, essa lei estabelecia restrições às sociedades secretas, que eram definidas, e proibia qualquer funcionário público, civil ou militar, de a elas pertencer, estabelecendo as respectivas penalidades.

Em face do projeto dessa lei, subscrito elo Sr. José Cabral, em polêmica pública, Fernando Pessoa, dizendo não ser Maçom nem anti-Maçon, escreveu no Diário de Lisboa, a partir de 04/02/1935, que o mesmo, pela sua natureza e pelo seu conteúdo, se integrava nas melhores tradições dos Inquisidores. Nesse escrito afirmava que, dada a imprecisão do conceito de sociedades secretas (as que exerçam a sua atividade, no todo ou em parte, por modo clandestino ou secreto), o próprio José Cabral devia ser denunciado como membro de uma sociedade secreta: o Conselho de Ministros. Afirmava também que tudo o que se faz de sério e importante no mundo, faz-se em segredo, uma vez que os conselhos de ministros não se reúnem em público, como não o fazem os diretores dos partidos políticos, nem os conselhos de administração das sociedades comerciais, nem mesmo as direções dos clubes desportivos. Afirma depois, que não mencionando o projeto a Maçonaria, esta era praticamente o seu único objetivo. Mas a Maçonaria, afirma, não é uma simples associação secreta, mas uma ordem iniciativa, sendo o segredo comum a todas as ordens iniciáticas, a todos os “Mistérios” e a todas as iniciações transmitidas de mestre a discípulo.

Também a este propósito, escreveu Norton de Matos, então Grão-Mestre da Maçonaria Portuguesa, ao Presidente da Assembléia Nacional, Prof. Alberto dos Reis, uma carta, opondo-se ao conteúdo de tal projeto, onde, para além do mais, afirmava: “Associação secreta deve ser para efeitos penais: aquela cujos fins sejam imorais e inconfessáveis. São de todos conhecidos os fins da Maçonaria e os princípios morais que guiam a sua conduta; nunca se procurou ocultar a eleição dos seus Grãos-mestres e a nomeação dos seus corpos dirigentes; realizam os Maçons muitas sessões e solenidades públicas, onde ostentam as suas insígnias e onde tomam os seus lugares habituais, na sala das suas reuniões, não temendo, portanto, ser conhecidos pelos muitos concidadãos não Maçons que a essas sessões assistem.”.

E mais adiante afirma: ”Mais uma vez, na longa carreira através dos séculos, a Maçonaria se encontra sob uma onda de perseguições. De um extremo os bolchevistas procuram evitá-la na Rússia; de outro extremo as forças reacionária promovem a sua expulsão da Itália e da Alemanha.”.

Mas vejamos porque são os rituais Maçônicos só praticados entre Iniciados e porque não revelam estes à identidade de outros Iniciados, salvo com autorização dos próprios.

A resposta à primeira questão é óbvia: porque isso é inerente a qualquer rito iniciático, como muito bem explica Fernando Pessoa no referido artigo.

Por outro lado, quanto a não revelação dos seus membros há que ter em conta que, embora vivamos em sociedades abertas e democráticas, a liberdade e a democracia nestas não é necessariamente uma dado imutável e a história está repleta, sobretudo no século XX, de exemplos de reversão de democracias para ditaduras, em que, como refere Ferrer-Benimeli, quase invariavelmente, os Maçons foram perseguidos.

Além disso, como afirma Rui Bandeira, em texto publicado no blogue “Partir Pedra, em 08/01/2008, “A Fraternidade implica o reconhecimento da dignidade do outro em todas as circunstâncias. Implica o respeito pelo outro, pela sua inteligência, pelas suas escolhas. Se um maçom divulgasse que outrem tem essa qualidade, sem que o visado tivesse previamente assumido a mesma publicamente, estaria, sobretudo a desrespeitá-lo, a desrespeitar essa sua escolha. Se o visado não se tinha assumido publicamente como maçom, isso resultava de uma análise do mesmo, de uma escolha sua. Análise e escolha que era seu direito fazer e que só a ele competia fazer. Divulgar que esse que se não assumiu como maçom é maçom corresponde a substituir, a desvalorizar, a desconsiderar, o juízo por ele feito, em favor do juízo (ou da falta de juízo...) do próprio.”.

Se nenhum cidadão pode ser perguntado pela sua religião (art.º41º/3 da CRP[5]) e, por isso, também não pode ser perguntado sobre se pertence a alguma igreja; se os partidos políticos não têm que revelar os seus membros[6], mas tão só os titulares; se todos os cidadãos têm liberdade de associação sem interferência das autoridades públicas (art.º 46º/2 da CRP[7]); se os magistrados podem fazer parte de partidos políticos, sem ter que o revelar, só estando proibidos de exercer atividades político-partidárias públicas[8]; se a DUDH consagra a liberdade de pensamento, em público e em privado com os respectivos ritos (art.º 18º[9]), porque haveria a Maçonaria de ter que revelar os seus membros?

E porque teriam os magistrados que dizer que são Maçons, se não têm que dizer se pertencem a um partido político, a um clube desportivo, a uma associação religiosa, se são sócios de uma sociedade comercial ou se são colaboradores dos serviços de informações?

Por outro lado, para além da devassa da intimidade de cada um ou da intenção de descriminar um magistrado por ser Maçom, não vejo qual o interesse prático da revelação da qualidade de Maçons pelos magistrados.

Na verdade, se o magistrado se revela como Maçom, mas nem as partes nem as testemunhas de um processo têm que o fazer, sempre se fica sem saber se o magistrado favoreceu uma das partes ou deu especial crédito a uma testemunha por serem Maçons.

Por outro lado, se, como afirma Henrique Monteiro, essa revelação se destina a evitar que os magistrados Maçons beneficiem de vantagens ou possibilidades superiores às dos seus colegas que não contam com as mesmas fidelidades, então forçoso é concluir que se essa revelação for feita, os Maçons, para não serem beneficiados, serão prejudicados, já que, com sabemos a Maçonaria suscita sentimentos exacerbados.

Mas, para além disso, todas as outras fidelidades teriam que ser reveladas e registradas, para evitar que os magistrados fossem por via delas beneficiados. Ou será que ser beneficiado porque se pertence ao mesmo partido político, ao mesmo sindicato ou linha sindical, ao mesmo clube desportivo ou porque se foi colega de escola ou de faculdade de determinadas pessoas põe menos em causa o independência do magistrado, o estado de direito e é mais aceitável?

Creio que além de preconceituoso este tipo de atitude revela a dificuldade que vai campeando em lidar com espíritos verdadeiramente livres, que se não deixam dominar por quaisquer tipos de interesses que não os mais elevados. Esta dificuldade foi o caldo de cultura de todas as ditaduras. Eis, pois, porque é perigosíssima e porque é absolutamente necessário combatê-la.

Eu quero dizer-vos que sou Maçom com muito orgulho e muito proveito, do ponto de vista do meu crescimento interior e da minha humanidade, que considero que sou um juiz imparcial, tanto quanto um homem o pode ser, e que não vejo qualquer incompatibilidade entre essas duas qualidades. Quero também dizer-vos que não deixarei de ser Maçom por cedência a preconceitos mesquinhos e ignorantes como estes tal como afirmei na cerimônia da minha iniciação[10].

Assim o GADU me dê força e me ilumine para merecer ser Maçon.

Lisboa, Setembro de 2009

Prancha de Autor Desconhecido

Notas:

[1] ENUNCIADO: A IMPARCIALIDADE É O ATRIBUTO FUNDAMENTAL DOS JUÍZES E DA FUNÇÃO JUDICIAL, QUE VISA GARANTIR O DIREITO DE TODOS OS cidadãos ao julgamento justo e equitativo. Princípios: 1. No exercício da função judicial, os juízes são imparciais, acionando os mecanismos de escusa nas situações que possam gerar dúvidas sobre a sua imparcialidade, observando as regras do processo que garantem a igualdade e o contraditório e repudiando todas as formas de discriminação. 2. Os juízes rejeitam a participação em atividades extrajudiciais que ponham em causa a sua imparcialidade e que contendam ou possam vir a contender com o exercício da função ou que condicionem a confiança do cidadão na sua independência e na imparcialidade da sua decisão

[2] Na verdade, como se afirma no sítio da UGLE:

“Public. Affaire

The basic principles and the statement of Freemasonry's aims show that the rule that forbids Masonic discussion of politics is designed to prevent regular Freemasonry becoming involved in any way in affairs of State, whether they are domestic or external. Great care must be taken to ensure that nothing is done that might allow it even to seem to be so involved. Grand Lodges which ignore these principles are not conducting themselves regularly and cannot expect to be or to remain recognised.”.

E mais: “Secrecy

Freemasonry is not a secret society.

Like many other societies, it regards some of its internal affairs as private matters for its members.

• There is no secret about its aims and principles. Copies of the constitutions and rules can be obtained from Freemasons' Hall by interested members of the public.

• The 'secrets' of Freemasonry are concerned with its traditional modes of recognition. Its ceremonies are private.

• In ordinary conversation there is very little about Freemasonry that may not be discussed.

On enquiry for acceptable reasons, Freemasons are free and will be proud to acknowledge their own membership.

E em perguntas e respostas: Q Why are you a secret society? «A We are not, but
lodge meetings, like those of many other groups, are private and open only to members. The rules and aims of Freemasonry are available to the public. Meeting places are known and in many areas are used by the local community for activities other than Freemasonry. Members are encouraged to speak openly about Freemasonry. Q What are the secrets of Freemasonry? A The secrets in Freemasonry are the traditional modes of recognition which are not used indiscriminately, but solely as a test of membership, e.g. when visiting a Lodge where you are not known. Q What happens at a lodge meeting? A The meeting is in two parts. As in any association there is a certain amount of administrative procedure - minutes of last meeting, proposing and balloting for new members, discussing and voting on financial matters, election of officers, news and correspondence. Then there are the ceremonies for admitting new Masons and the annual installation of the Master and appointment of officers. The three ceremonies for admitting a new Mason are in two parts - a slight dramatic instruction in the principles and lessons taught in the Craft followed by a lecture in which the candidate's various duties are spelled out. Q Why do Freemasons take oaths? A New members make solemn promises concerning their conduct in Lodge and in society. Each member also promises to keep confidential the traditional methods of proving that he is a Freemason which he would use when visiting a lodge where he is not known. Freemasons do not swear allegiances to each other or to Freemasonry. Freemasons promise to support others in times of need, but only if that support does not conflict with their duties to God, the law, their family or with their responsibilities as a Citizen. Q Why do your 'obligations' contain hideous penalties? A They no longer do. When Masonic ritual was developing in the late 1600s and 1700s it was quite common for legal and civil oaths to include physical penalties and Freemasonry simply followed the practice of the times. In Freemasonry, however, the physical penalties were always symbolic and were never carried out. After long discussion, they were removed from the promises in 1986.

[3] Cf. www.publications.parliament.uk:

Lord Burnham asked Her Majesty's Government:

Why the application form for lay membership of employment tribunals contains the question ''Are you a Freemason?'' when no other voluntary associations are singled out for declaration, and

Whether the question ''Are you a Freemason?'' contained in application forms for lay membership of employment tribunals is in breach of human rights legislation and the European Convention on Human Rights; and whether this represents unfair discrimination.[HL4086]

Lord Sainsbury of Turville: First, I would like to reassure the noble Lord that the answer to the ''Are you a Freemason?'' question has no impact on this selection process. The decision on appointment as a lay member to an employment tribunal will be based on how far applicants meet the published criteria. Whether or not candidates are freemasons has no bearing on their suitability for these posts.

13 May 2002 : Column WA10

The Home Affairs Select Committee's third report Freemasonry in the Police and the Judiciary, published in March 1997, recommended that a register should be established in order to promote greater openness about membership of the freemasons in the criminal justice system. Although the Select Committee's report had found no clear evidence of freemasonry exerting any improper influence within the criminal justice system, it concluded that suspicions about the influence of freemasonry were damaging to the credibility of the criminal justice system, and that the greatest cause of the suspicions was the secrecy surrounding freemasons. On 17 February 1998 the Home Secretary announced that the Government accepted the committee's proposal.

Consistent with the Government's response, the Lord Chancellor decided that new appointees to judicial office for which he was responsible in both the civil and criminal justice system should be required to declare whether or not they are freemasons. Employment tribunal lay members act in a judicial capacity and it is the policy of my department to adopt the same approach to these appointments. Equally we are committed to transparency in public appointments.

The Government believe that the requirement to disclose membership of the freemasons as a condition of appointment of the application form for these appointments is not incompatible with the European Convention on Human Rights and does not represent unfair discrimination.

[4] La Franc-Maçonnerie face aux dictatures”, La Revue do GRA, in www.freemasons-freemasonery.com.

[5] Constituição da República Portuguesa. Art.º 41º/3: “Ninguém pode ser perguntado por qualquer autoridade acerca das suas convicções ou prática religiosa, salvo para recolha de dados estatísticos não individualmente identificáveis, nem ser prejudicado por se recusar a responder.”.

[6] Art.º 6º da Lei dos Partidos Políticos: “Princípio da transparência

Os partidos políticos prosseguem publicamente os seus fins.

A divulgação pública das actividades dos partidos políticos abrange obrigatoriamente:

Os estatutos;

A identidade dos titulares dos órgãos;

As declarações de princípios e os programas;

As actividades gerais a nível nacional e internacional.

Cada partido político comunica ao Tribunal Constitucional, para efeito de anotação, a identidade dos titulares dos seus órgãos nacionais após a respectiva eleição, assim como os estatutos, as declarações de princípios e o programa, uma vez aprovados ou após cada modificação.”.

[7] “As associações prosseguem livremente os seus fins sem interferência das autoridades públicas e não podem ser dissolvidas pelo Estado ou suspensas as suas actividades senão nos casos previstos na lei e mediante decisão judicial.”.

[8] Art.º 21º da Lei dos Partidos Políticos, LOrg 2/2003, de 22/08:

Não podem requerer a inscrição nem estar filiados em partidos políticos:

Os militares ou agentes militarizados dos quadros permanentes em serviço efetivo;

Os agentes dos serviços ou das forças de segurança em serviço efetivo.

É vedada a prática de atividades político-partidárias de caráter público aos:

Magistrados judiciais na efetividade;

Magistrados do Ministério Público na efetividade;

Diplomatas de carreira na efetividade.

Não podem exercer atividade dirigente em órgão de direção política de natureza executiva dos partidos:

Os diretores-gerais da Administração Pública;

Os presidentes dos órgãos executivos dos institutos públicos;

Os membros das entidades administrativas independentes

[9] “Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.”.

[10] “Declarais solenemente, por vossa honra, que … não fostes movido por solicitação imprópria de amigos, contra a vossa própria inclinação e que não fostes influenciado por motivos mercenários ou outros menos dignos e que é livre e espontaneamente que vos apresentais como candidato aos mistérios e privilégios da Maçonaria?”





Escrito por A Jorge



domingo, 24 de abril de 2011

TIRADENTES - ÚLTIMOS MOMENTOS


TIRADENTES - ÚLTIMOS MOMENTOS



Em bazófias próprias de mentes perversas, diziam os soldados na rua que o Tiradentes deveria ser morto de forma mais meritória, atado a um cavalo e marretassem-lhe peito, pernas e pés, para que tivesse uma agonia lenta e dolorosa. Se algum passante se atrevia a repostar1, ia logo curtir a cadeia. Os lusos atrevidos tinham ainda medo daquele homem acabado fisicamente, o alferes Xavier!

No oratório da cadeia, panos pretos e cruz pendente do altar, só estavam naquele dia 20 de abril de 1792 o Tiradentes, uns guardas, e dois frades, que o tentavam consolar. A um dado momento, pensando na sua vida de sacrifício e luta, embora contente por só ele ser o condenado à pena máxima, ainda repostou ao padre, com mágoa e ironia simples:

- A corda sempre rebenta pelo lado mais fraco!

Como se enganava o alferes. Nenhum de nós poderia ser mais forte do que ele naquele instante!

De madrugada, às quatro horas, após uma noite sem dormir, em pensamentos cheios de oração e dor, chegou-se ao alferes o barbeiro. Vinha cumprir o de praxe: raspou-lhe os cabelos e a barba. Em seguida, um meirinho tirou-lhe as roupas e fê-lo vestir a serapilheira2 branca, a alva dos condenados, cujas mangas eram cosidas nas extremidades, com cordas que se amarravam em nó. Foi ouvido, então, em confissão, por Frei Raimundo Penaforte, que lhe fez uma missa e ministrou-lhe a extrema-unção.

A Tiradentes nada daquilo parecia real. Talvez que Deus o condenasse, porque os homens haviam atingido tal fim, porque ele se houvera como voluntário para cortar a cabeça ao governador! - pensava cansado. No entanto, sabia que a morte não era o fim de tudo! Lembrava-se da lenda maçônica segundo a qual o herói vira estrela no céu! Sorria tristemente. Repostava ao frade por monossílabos!

Já raiava o dia 21 de abril de 1792, um sábado de sol esplêndido, sendo Portugal regido por D. Maria I, o vice-rei Dom Luís de Castro, conde de Resende. Logo mais seria executada a sentença. Assistiriam a execução os mesmos “marotos”, palavra ofensiva que os lusos detestavam, e que havia custado ao Victoriano Veloso os açoites ao redor da forca e a caminho da cadeia, o Silvério, o Parada e Souza, o Manitti, o Basílio Brito Malheiros. Dos traidores só o Pamplona não foi contemplado pelos “serviços” prestados à sua Real Soberana!

Vários corpos de Infantaria, um de Artilharia e um Esquadrão de Cavalaria da Guarda dos vice-reis, com duas companhias, se apressavam para guarnecer as ruas e a execução. A serviço da segurança do vice-rei e sua magistratura três batalhões de granadeiros...

Pela manhã, logo cedo estavam todos com seus fardamentos de gala, os cavalos com fitas cor-de-rosa nas crinas e mais nas espingardas e baionetas dos soldados. Os arreios de prata dos maiorais haviam sido polidos e brilhavam ao sol. As ruas do Piolho, da Cadeia, da Barreira de Santo Antônio e do largo de Lampadosa, onde fora erguida a forca descomunal, cujas traves se encontram no Museu da Inconfidência, foram visitadas por soldados. Deveriam guarnecer as janelas de colchas adamascadas, festões, rendas, para enfeitar aquela demonstração de força. Para espanto dos promotores da execução o povo acorreu às ruas. Ia a dar espórtulas aos padres que a pediam, segundo o costume, para as missas ao condenado. Era uma última homenagem, covarde embora, daqueles por quem o Tiradentes se propusera a lutar! O coronel José da Silva Santos, comandante do Regimento da Artilharia do Rio de janeiro, teria que guarnecer a forca, junto com os regimentos de Bragança e Moura, primeiro e segundo batalhão dos granadeiros, sob o comando do coronel José Vitorino Coimbra. Ironia cruel! Estes homens eram companheiros nossos, e inspirados pelo Plano Espiritual, sob o cego olhar das autoridades presentes guarneceram a forca, formando-se num gigantesco e humano triângulo, o mesmo símbolo da bandeira Inconfidente!

Às nove horas da manhã abriu-se o portão da cadeia, e com os padres da Irmandade da Misericórdia, que iam a rezar a prece de S. Atanásio, apareceu diante dos primeiros assistentes Tiradentes, vestindo a alva, com as mãos amarradas por grossas cordas. Dirigiu-se a ele o Galé3 Jerônimo Capitania, escolhido para a execução da sentença! Pediu ao Tiradentes que o perdoasse pelo que ia fazer, que a isto era obrigado.

Era costume fazê-lo, como a se aliviar do que tinha que cumprir.

Tiradentes ajoelhou-se diante do negro e beijou-lhe as mãos, repostando:

- Assim também o Meu Senhor morreu por meus pecados!

Jerônimo jamais esqueceria enquanto vivesse aquele condenado, que o haveria de ajudar, desde então. Curvada a cabeça do alferes, passou-lhe o baraço4 ao pescoço, seguindo à frente a puxá-lo. Nas mãos, os padres lhe puseram um crucifixo de dois palmos, o qual Tiradentes passou a olhar, para não mais pensar em ninguém e pedindo ao Cristo o ajudasse no derradeiro instante.

As cornetas soaram e a Companhia da Cavalaria abriu o séquito fúnebre, seguida de três meirinhos, que iam badalando sinos e repetindo a sentença para ciência dos assistentes. Várias Irmandades seguiam o cortejo: a do Rosário, dos Terceiros de São Francisco, do Santíssimo Sacramento, da Sé dos Beneditinos e Carmelitas, que havia recolhido minha Dalva, das Almas do Purgatório. Atrás Silva Xavier, o Tiradentes, seguido pelos irmãos de Santo Antônio e Santa Casa de Misericórdia. A alçada régia estava representada pelo escrivão, ouvidores, juízes-de-fora.

No prédio que me acolhera, bem como nos demais, ouvimos o toque das cornetas e sabíamos o que representava.

O trajeto era longo para ser feito a pé por um condenado. Tiradentes era provado por última vez. E seguiu, tendo por duas vezes olhado os céus. Alguns curiosos tiveram pena. Mulheres choravam e afastavam-se do lugar.

Assim que foram chegando os padres, os meirinhos e todos perto da Igreja de Lampadosa, ouviram de dentro um coral de vozes. Era o conta do amigo do Tejuco, o Mesquita Lobo, cantado por um coral de mulatos, o Domenica Palmarum. Tiradentes entendeu a mensagem muda. Logo mais viria o seu sacrifício, como o de Jesus, pelos seus irmãos, só que, por diferente havia ele sonhado com um reino neste Brasil, provera Deus lhe reservasse um lugar no outro Reino. Olhou para dentro, parando por uns instantes. No altar viu acesas velas. Formavam um perfeito triângulo. Sinal que, se ele morreria breve, as idéias de liberdade permaneceriam. Atrás de uma coluna julgou ver uma mulher e uma criança. Talvez Eugênia. O sol forte o impedia de ver direito na Igreja escura. Melhor não fosse ela, pobre mulher - pensou.

Seguiu adiante. Ao seu lado, acompanhando-o no derradeiro momento as entidades amigas5 ministravam-lhe conforto. Uma paz estranha o envolvia a poucos metros da forca que avistou adiante. Um entorpecimento, e uma alegria nova no coração. Era nisto a morte? A liberdade?

Diante da escada parou um instante. Frei Penaforte ajudou-o a galgar os vinte e quatro degraus. Diante de si viu a multidão e os guardas em seus uniformes. Não! Não se enganava! Era novamente o triângulo6 que tinha diante de si. Olhou para as autoridades. Seu pensamento se elevou aos céus, enquanto se ouvia um discurso encomendado ao padre, para lição à multidão presente.

- Seja breve, padre - pediu Tiradentes, baixando a voz.

O padre parou um instante. Tiradentes pensou que já não lhe poderiam negar falasse àquele povo porque iria morrer por aquele modo por ele. Com um coragem, abriu a boca para falar-lhes. A um sinal, o carrasco puxou a corda, atando-a à trave. Não lhe permitiriam aquele último recurso!

Frei José Maria do Desterro começou sua fala, condenando aqueles que fugiam à desobediência dos reis e seus ministros! Aproveitou para falar da sentença aos outros condenados, com o que pudesse fazer saber a todos os que ainda não soubessem, devido a amizade que tinha a alguns acusados. Por três vezes Tiradentes lhe pediu que terminasse a prédica. O Sol estava a pino. Pediu água e lhe deram, mas como que se lembrasse de pedido semelhante a um outro condenado à morte, a quem pedia coragem e perdão para os algozes, mal a pôde beber. Frei José começou a orar o Credo dos apóstolos, lentamente. Para que também se pusesse, por fim, pronto para aquele instante Tiradentes repetiu alto, para que as pessoas próximas ouvissem, palavra por palavra. Todos estavam magnetizados por aquele homem magro e abatido, cujo olhar espelhava uma força e resignação divinas. Amparado por forças invisíveis ao populacho e à tropa, seu espírito, meio liberto do corpo, pairava acima do solo, ligado por tênues fios ao corpo maltratado, impulsionando a fala. Tirou-lhe o carrasco o crucifixo das mãos. Quando a oração terminasse, teria que cumprir a sentença. Para que a multidão não visse a fisionomia do réu e este a de todos, amarrou-lhe aos olhos uma tira de bretanha preta.

Tiradentes, com os olhos mortais velado, começou a ver o triângulo da guarda radioso em luz, como se um Sol o centrasse!

- Delírios de condenado? - pensou e clamou em espírito: Jesus! Jesus! Jesus!

Descendo os últimos degraus Pe. José terminava a prece encomendada: “Na vida eterna!” Como se obedecendo a senha, Jerônimo puxou violentamente a corda, suspendendo o alferes no ar. Estertores convulsos sacudiam o corpo. Eram onze horas e vinte minutos do dia 21 de abril de 1792. Pulando sobre os ombros do condenado, balouçado pelo ar, Jerônimo Capitania apressava a morte do Tiradentes.

Vendo o triângulo de gentes alegres a saudá-lo, sentiu o alferes uma dor funda no pescoço e a sufocação. Seu corpo estava levantado, suspenso, como que desmaiava, e, no entanto, ouvia um coral cantando, cantando o Te Deum. O centro solar do triângulo tomava vida: Era o Cristo a lhe estender os braços. Queria falar, correr ao seu encontro, mas não tinha forças. Amparavam-no de cada lado Felipe7 e o romano Lício. Então a morte era assim? E de onde partiam aqueles longínquos ruídos?

Ouvia o Tiradentes, bem abafado, no outro Plano da Vida, o rufar dos tambores que finalizava sua execução e abafava qualquer voz de horror que o povo pudesse erguer.

Também nós o ouvimos e, sabendo-lhe a causa, choramos amargamente.

( Espírito Tomás Antônio Gonzaga - Médium: Marilusa Moreira Vasconcellos - Obra: Confidências de um Inconfidente). EDITORA RADHU

Notas do compilador:

1 - repostar = retrucar;

2 - serapilheira = pano de estopa grosseira, destinado à embalagem de fardos e à limpeza - tecido grosseiro com que os camponeses fazem seus trajes de serviço;

3 - Galé = pessoa escravizada a trabalho penoso e duro;

4 - baraço = corda fina, cordel - laço de forca - corda com que se enforcavam os condenados;

5 - Entidades amigas = Tomás refere-se aos Espíritos encarregados de acompanhar o desencarne de Tiradentes;

6 - Triângulo = Desenho triangular no qual está inscrita a expressão "Libertas Quae Sera Tamen" (liberdade ainda que tarde, ou tardia), divisa da Inconfidência Mineira, hoje lema do Estado de Minas Gerais. É parte de um verso latino do gênio da literatura latina e ocidental Virgílio (Publius Virgilius Maro, poeta latino (70-19 a.C);

7 - Felipe = Trata-se do Espírito de Felipe dos Santos Freire, que havia sido o chefe da revolta de 1720, em Vila Rica (Ouro Preto) contra a lei que instituiu no Brasil as casas de fundição e lançava novos impostos sobre a mineração de ouro. Foi preso e executado no mesmo ano, na mesma cidade de Vila Rica.